#Republic, de Cass Sunstein: uma resenha para a Parágrafo Primeiro

Opinião 25.07.2018 por Dennys Antonialli

Em resenha para a newsletter Parágrafo Primeiro (JOTA/Revista 451), o diretor Dennys Antonialli comenta o livro #Republic: divided democracy in the age of social media, de Cass Sunstein (Harvard Law School).

O feed e a tirania

Dennys Antonialli*

Quem ainda não parou para pensar no impacto das redes sociais na democracia está atrasado. Não é o caso de Cass Sunstein, professor da Harvard Law School que tem no currículo passagens pela Casa Branca e pela Universidade de Chicago. Em #Republic: divided democracy in the age of social media, o autor se propõe a revisitar as duas versões anteriores da obra – Republic.com (2001) e Republic.com 2.0 (2007), ambas sem publicação no Brasil – para atualizar suas reflexões a respeito das transformações que as redes sociais trouxeram à esfera pública.

Partindo de estudos comportamentais e de considerações sobre a forma de funcionamento dos algoritmos das redes sociais, Sunstein avalia a consolidação dessas plataformas como novos tipos de intermediários que, ao possibilitarem o microdirecionamento e a personalização de conteúdos, acabam minando as oportunidades de contato dos usuários com opiniões diversas e plurais.

Para Sunstein, a arquitetura das redes sociais não privilegia as descobertas feitas por acaso (serendipity). Diferentemente do que acontece quando abrem um jornal ou cruzam os espaços públicos da cidade, nas redes sociais os cidadãos estão confinados a bolhas e expostos a conteúdos que apenas reforçam suas próprias convicções e interesses. Isso repercutiria diretamente na capacidade de se estabelecer um repertório comum de temas em pauta no debate público, de entrar em contato com argumentos contrários e de conviver com a divergência.

A justificativa para projetar redes sociais focadas na personalização e segmentação de conteúdos estaria, segundo o autor, na ideia de soberania do interesse do consumidor. Cada vez mais, com base em dados pessoais, essas plataformas seriam capazes de identificar preferências e entregar conteúdos tidos como “mais relevantes”. A satisfação do usuário estaria diretamente ligada à personalização. Disso resultaria uma esfera pública extremamente fragmentada, desarticulada e mais distante das ambições e ideais democráticos. Ao darem primazia aos interesses individuais dos usuários, as redes sociais podem estar deixando de servir aos interesses da coletividade.

Em onze capítulos bem estruturados, a obra oferece subsídios conceituais relevantes para enfrentar temas como polarização política e câmaras de eco, liberdade de expressão e circulação de informações na internet. Com exemplos bastante atualizados, como a corrida eleitoral que elegeu Donald Trump nos Estados Unidos, Sunstein ainda é capaz de ilustrar de que forma essas plataformas têm sido exploradas para promover determinadas agendas políticas e angariar adeptos para campanhas extremistas. O sobrevoo desses temas ainda inclui um exame detido de diversas propostas de regulamentação e das principais estratégias que podem ser adotadas pelas plataformas para combater alguns desses fenômenos.

É leitura obrigatória para acompanhar o que vai acontecer com o debate político nas redes sociais no Brasil nos próximos meses.

*Dennys Antonialli é professor da Faculdade de Direito da USP e diretor do InternetLab, centro independente de pesquisa em direito e tecnologia

Sunstein, Cass  #Republic: Divided Democracy in the Age of Social Media • Princeton University Press • 328 pp • R$ 95,50/R$ 64,32

Resenha originalmente publicada na newsletter Parágrafo Primeiro (JOTA/Revista 451). Para assinar gratuitamente, basta acessar o link: https://conteudo.jota.info/paragrafo-primeiro 

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