A colagem do projeto Dieta de Mídia na Pandemia apresenta uma mão segurando um garfo com fios enrolados, em referência a um macarrão que conecta uma televisão antiga, um rádio antigo e um monitor de computador atual. Nesta, há uma mão tocando a tela. Na margem esquerda há uma máscara cirúrgica. Já na direita, o símbolo de um vírus.

O que mudou em nosso consumo de informações durante a pandemia?

Em atualização do guia da dieta de mídia digital, reunimos pesquisas que tratam das alterações do consumo informativo e de serviços online pelos brasileiros, durante a crise sanitária - com consideráveis resultados.

Pesquisa Informação e Política 27.09.2021 por Jade Becari

A pandemia de Covid-19 provocou uma série de mudanças nas relações sociais de populações do Brasil e do mundo. A tecnologia passou a ser o elo de conexão pessoal e interpessoal em um período no qual parcelas significativas da população precisaram se voltar ao digital. Com a adoção de medidas de contenção de circulação de pessoas, serviços públicos e privados tiveram que se adaptar ao ambiente online, refletindo sobre as formas de consumo dos brasileiros que ficaram mais dependentes da tecnologia para estudar, trabalhar, consumir e se entreter. 

Em um momento de crise sanitária, no qual há um vácuo na coleta de dados, devido ao cancelamento do Censo 2021 – por cortes orçamentários anunciados pelo Governo Federal em abril deste ano -, organizar pesquisas que possam suprir essa deficiência ganhou um novo papel, tornando-se primordial. Nesse contexto, o InternetLab apresenta o Dieta de Mídia na Pandemia, que reúne dados relevantes sobre as alterações no consumo de mídia de brasileiros e brasileiras.

Mas, afinal, quais foram as alterações no consumo de mídias e de serviços online pelos brasileiros durante esse contexto? Nesta publicação, será possível encontrar dados relevantes sobre as variações ocorridas no acesso e nos hábitos digitais durante a pandemia, coletados por fontes de pesquisa seguras. O conteúdo está dividido em três partes, trazendo o reflexo da pandemia sobre: I) o consumo de serviços; II) as atividades de estudo e trabalho; e III) a cultura e consumo material. Os dados aqui expostos estão presentes no guia da dieta de mídia brasileira, iniciativa que compila pesquisas quantitativas sobre o consumo de mídia do Brasil. Com atualização constante, o guia serve como fonte de conhecimento, informação, reflexão e, sobretudo, transparência.

A colagem do projeto Dieta de Mídia na Pandemia apresenta uma mão segurando um garfo com fios enrolados, em referência a um macarrão que conecta uma televisão antiga, um rádio antigo e um monitor de computador atual. Nesta, há uma mão tocando a tela. Na margem esquerda há uma máscara cirúrgica. Já na direita, o símbolo de um vírus.
Arte de Verônica Bertoni.

A pandemia mudou o consumo de serviços na internet

A pandemia da Covid-19 trouxe efeitos que vão além da saúde. Com as medidas de contenção necessárias para evitar a disseminação do vírus, muitas empresas tiveram que encerrar suas atividades e demitir funcionários, fazendo com que a taxa de desemprego chegasse a 13,5% em 2020, o que atingiu cerca de 13,4 milhões de brasileiros. Os efeitos econômicos gerados pela pandemia geraram preocupações aos brasileiros em relação aos seus empregos. Além disso, a maior parte dos serviços se voltou ao ambiente online, fazendo com que a procura e a realização de demandas de maneira remota aumentasse. Serviços disponibilizados pelo Governo Eletrônico foram utilizados por 92% da população brasileira desde o início da pandemia. Entre os pesquisados e realizados, vemos um destaque aos referentes aos direitos do trabalhador ou previdência social, como INSS, FGTS, seguro-desemprego, auxílio emergencial ou aposentadoria, os quais foram buscados por 72% dos usuários da internet.

Gráfico 1: Informações referentes a serviços públicos procurados ou realizados por usuários da internet desde o início da pandemia (%)

O gráfico em barras na vertical mostra que questões relacionadas a direitos trabalhistas e previdência foi o setor mais procurado ou realizado por usuários da internet e polícia e segurança, o menos.
Elaboração InternetLab | Dados Painel TIC Covid 2ª ed.

Outra preocupação da população foi a própria saúde. 75% dos entrevistados disseram ter procurado por informações ou serviços relacionados à saúde pela internet e 20% realizou consulta médica ou com outro profissional da saúde desde o início da pandemia. As formas de realização de consultas foram variadas, sendo maior por aplicativos de mensagem, como Whatsapp e Telegram (50%), e aplicativos de chamada de vídeos, como Skype ou Zoom (31%).

Gráfico 2: Aplicativo utilizado por usuários de internet para realização de consultas online com profissionais da saúde desde o início da pandemia (%)

WhatsApp e Telegram foram os aplicativos mais usado, com 50%.
Elaboração InternetLab | Dados Painel TIC Covid 2ª ed.

Outra forma de acesso a informações de saúde, direcionado principalmente para a Covid-19, foi a partir de aplicativos do governo, com informações sobre sintomas, formas de obter tratamento e aviso de encontro com pessoas contaminadas pelo rastreamento de contatos, baixados por 20% de usuários de internet. Com o uso desses aplicativos, a questão da privacidade apareceu, já que dentre os motivos para a não utilização dos aplicativos, 37% acredita que seu telefone possa estar em risco, 42% se preocupa com a potencial vigilância do governo sobre a população após a pandemia e 39% não quer que o governo acesse sua localização. 

Gráfico 3: Motivos para usuários de internet não baixarem aplicativos que informem sintomas, formas de obter tratamento ou aviso de contato com pessoas com Covid-19 (%)

A falta de interesse é o principal motivo para usuários de internet não baixarem aplicativos que informem sintomas, formas de obter tratamento ou aviso de contato com pessoas com Covid-19
Elaboração InternetLab | Dados Painel TIC Covid 2ª ed.

Além disso, 54% dos usuários de internet afirmaram que os riscos de disponibilizar esses dados superam os benefícios. Porém, as preocupações em relação à disponibilização de dados se deu em torno do roubo de identidade (23%) e venda de dados para terceiros (13%) e não ligadas ao uso de seus dados pelo governo ou empresas privadas como forma de discriminação.

Como ficou trabalhar e estudar online?

Com a suspensão das aulas presenciais pelo Ministério da Educação em março de 2020, 87% dos estudantes brasileiros tiveram aulas remotas ofertadas por suas escolas ou universidades, segundo o Painel TIC Covid-19. Com a alteração do ensino para o ambiente online, escolas, responsáveis e os próprios alunos tiveram que se adaptar às condições do período a partir do uso de diversos dispositivos para o ensino. Dos recursos utilizados, os que ganham destaque são sites, redes sociais ou plataformas de videoconferência, utilizado por 71% dos alunos, e aplicativos da escola, universidade ou secretaria de educação, por 55%. Ainda foram utilizados materiais impressos distribuídos pelas escolas ou universidades por 29%, canal de televisão por 14% e rádio por 5%, além dos 8% dos alunos que responderam acompanhar as aulas de forma presencial.

Além da diversidade de recursos usufruídos, os alunos tiveram diferenças relacionadas aos dispositivos de acompanhamento às atividades escolares, com destaque ao celular, utilizado por 69% dos estudantes. O notebook, com 43%, teve seu uso principalmente entre as classes AB (70%) e apenas 32% por estudantes da classe C e 12% da DE.

Gráfico 4: Dispositivos utilizados por usuários de internet que frequentam escola ou universidade para acompanhar aulas ou atividades remotas durante a pandemia de Covid-19 por classe econômica (%)

As classes A e B utilizaram mais o celular e o notebook, enquanto as classes C,D e E utilizaram mais o celular.
Elaboração InternetLab | Dados Painel TIC Covid-19 3ª ed.

Além das atividades em universidade e escolas, 52% dos entrevistados afirmaram ter realizado atividades ou pesquisas escolares na internet, 35% fez cursos à distância, 57% estudou na internet por conta própria e 53% realizou atividades de trabalho. Partindo da média populacional e olhando dentre as classes, entretanto, vemos que essas atividades foram realizadas principalmente pelas classes AB, sobretudo em relação às atividades de trabalho, que foram executadas por 70% da população das classes AB, 49% da classe C e 37% da DE.

Gráfico 5: Atividades de educação e trabalho realizadas online por usuários de internet por classe econômica (%)

As atividades mais realizadas pelas classes A e B foram atividades relacionadas ao trabalho, para a classe C foram estudos na internet por conta própria e nas classes D e E atividades e pesquisas escolares.
Elaboração InternetLab | Dados Painel TIC Covid-19 3ª ed.

Cultura e consumo: novas tendências

Outro reflexo das pessoas terem ficado mais dependentes da tecnologia foi sobre formas de entretenimento e busca por informação pela internet, já que boa parte dos estabelecimentos e opções de lazer permaneceram fechados ou com capacidade reduzida desde o início da pandemia. 86% de usuários de internet utilizaram esse meio para ouvir música, 90% assistiu a vídeos, programas, filmes ou séries, 70% leu jornais, revistas ou notícias e 66% acompanhou transmissões de áudio ou vídeo em tempo real*, tendo um aumento em todas essas categorias em comparação a 2019.

Gráfico 6: Atividades de multimídia realizadas online por usuários de internet em 2020 e 2019 (%)

O gráfico em barras informa que 90% assistiu a vídeos, programas ou filmes e séries pela internet em 2020. Essa também foi a atividade principal de 2019.
Elaboração InternetLab | Dados Painel TIC Covid-19 3ª ed. e TIC Domicílios 2019.

O consumo eletrônico e uso de serviços pela internet também passaram por grande aumento, chegando a 66% em 2020 – em 2018, a proporção da utilização era de 44%. O consumo se deu em grande parte de comida ou alimentos (54%), roupas, calçados ou materiais esportivos (50%), produtos para casa ou eletrodomésticos (49%), cosméticos ou produtos de higiene (44%), equipamentos eletrônicos (35%) e medicamentos (31%). Em comparação a 2018, vimos que quase todas as categorias tiveram aumento, exceto a compra de equipamentos eletrônicos e de produtos e serviços relacionados a atividades presenciais, como compra de passagens aéreas e de ingressos para eventos, que tiveram índices de 6% e 5% em 2020 e 16% e 25% em 2018, respectivamente.

Gráfico 7: Tipo de produto comprado por usuários de internet nos últimos 12 meses de 2018 e 3 meses de 2020 (%)

O gráfico em barras demonstra que o tipo de produto mais comprado por usuários de internet em 2020 foi comida ou produtos alimentícios. Já em 2018, roupas, calçados e material esportivo foi o tipo de produto mais comprado.
Elaboração InternetLab | Dados Painel TIC Covid-19 1ª ed. e TIC Domicílios 2018.

O uso de serviços de entrega de produtos também aumentou, de forma que 27% dos brasileiros já tinham aderido ao hábito de pedir delivery em junho, dos quais 53% tinham feito de 2 a 3 pedidos na semana anterior à realização da pesquisa da Kantar IBOPE Media.

Também pode-se observar a mudança do hábito de consumo em relação aos aplicativos mais presentes nos celulares dos brasileiros. Por mais que muitos aplicativos utilizados em dezembro de 2019 tenham sido os mesmos em maio de 2020, foi percebido na pesquisa da MobileTime a inserção de novos, que se tornaram indispensáveis durante a rotina pandêmica dos brasileiros. Os destaques são o aplicativo do Auxílio Emergencial e FGTS, presente em 2% a 4% das homescreens dos celulares, e o da Caixa Tem (utilizado para recebimento do Auxílio), presente em 5% a cada 9% homescreens. Também podemos perceber o aparecimento do aplicativo da plataforma de videoconferência Zoom, do TikTok – rede social que ganhou bastante popularidade no Brasil em 2020 -, e de aplicativos de desconto, como o AME, e de lojas, como a Amazon.

Gráfico 8: Aplicativos mais presentes na homescreen de celulares em dezembro de 2019 e maio de 2020

A imagem mostra que dentre os aplicativos mais presentes na homescreen do usuário, destaca-se o facebook, instagram e WhatsApp.
Reprodução MobileTime | Acesse o conteúdo na íntegra: dezembro de 2019 e maio de 2020
A imagem mostra que dentre os aplicativos mais presentes na homescreen do usuário, destaca-se o facebook, instagram e WhatsApp.
Reprodução MobileTime | Dezembro de 2019 e maio de 2020

O consumo de mídias tradicionais, como televisão e rádio, também cresceu no início da pandemia. A audiência de televisão aumentou nos primeiros meses de isolamento, indo de 17,8% no início de março a 22% no fim de março e 21,1% no final de abril. No entanto, em junho de 2020, os números voltaram aos índices próximos do início do ano, chegando a 18,3%. O tempo médio de consumo individual de matérias jornalísticas na televisão também aumentou, chegando ao pico entre os dias 27 de abril e 3 de maio – semana que sucede a saída do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça e que o Brasil ultrapassou a China em número de mortos pela Covid-19 -, variando entre 26:48 min. e 27:26 min., com aumento de cerca de 5 minutos comparado aos 21:56 minutos no início de janeiro de 2020.

Gráfico 9: Consumo de conteúdo informativo pela televisão de janeiro a maio de 2020

O gráfico em linha informa a variação do tempo médio de consumo do gênero jornalístico.
Reprodução Kantar IBOPE Media.

O meio de comunicação que se destaca no crescimento de consumo é o rádio, que ficou todo o período de março a junho em ascensão. 74% dos entrevistados pela pesquisa da Kantar IBOPE Media (2020) afirmaram que estão aumentando ou mantendo o consumo de rádio durante o isolamento e 27% dos ouvintes de rádio também fazem uso de serviços de streaming de áudio. Dentre os motivos para ouvir rádio, destacam-se o entretenimento e a informação, ouvindo músicas e notícias, com destaque às informações sobre a Covid-19.

Com essas informações organizadas, é possível ter um panorama sobre como foi o consumo da população brasileira durante a pandemia da Covid-19. Em resumo, vê-se que os brasileiros fizeram grande uso de serviços online, principalmente ligados a direitos trabalhistas e à saúde, que a compra de produtos de forma online aumentou em quase todas as categorias e que o consumo de informação pela televisão teve um crescimento. Esses dados desenham o quadro de como diferentes tecnologias estão inseridas na sociedade brasileira. 

Para ter acesso a mais pesquisas como as aqui expostas – de diferentes anos e contextos -, confira o guia da dieta de mídia digital brasileira.

*Por não ter tido essa pergunta na edição da pesquisa TIC Domicílios de 2019, a variável não foi adicionada ao gráfico.

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Referências

NIC.BR; CETIC.BR. Painel TIC Covid-19. 2ª edição: Serviços públicos on-line, telesaúde e privacidade. Outubro, 2020. Disponível em: https://www.cetic.br/pt/tics/tic-covid-19/painel-covid-19/2-edicao/G1W/. Acesso em: 08 de abr. de 2021.

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NIC.BR; CETIC.BR. Painel TIC Covid-19. 2ª edição: Serviços públicos on-line, telesaúde e privacidade. Outubro, 2020. Disponível em: https://www.cetic.br/pt/tics/tic-covid-19/painel-covid-19/2-edicao/P23AW/. Acesso em: 08 de abr. de 2021.

NIC.BR; CETIC.BR. Painel TIC Covid-19. 2ª edição: Serviços públicos on-line, telesaúde e privacidade. Outubro, 2020. Disponível em: https://www.cetic.br/pt/tics/tic-covid-19/painel-covid-19/2-edicao/P31W/. Acesso em: 08 de abr. de 2021. 

NIC.BR; CETIC.BR. Painel TIC Covid-19. 2ª edição: Serviços públicos on-line, telesaúde e privacidade. Outubro, 2020. Disponível em:  https://www.cetic.br/pt/tics/tic-covid-19/painel-covid-19/2-edicao/P35W/. Acesso em: 08 de abr. de 2021.

NIC.BR; CETIC.BR. Painel TIC Covid-19. 3ª edição: Ensino remoto e teletrabalho. Novembro, 2020. Disponível em: https://www.cetic.br/pt/tics/tic-covid-19/painel-covid-19/3-edicao/E7W/. Acesso em: 08 de abr. de 2021.

NIC.BR; CETIC.BR. Painel TIC Covid-19. 3ª edição: Ensino remoto e teletrabalho. Novembro, 2020. Disponível em: https://www.cetic.br/pt/tics/tic-covid-19/painel-covid-19/3-edicao/E8W/. Acesso em: 08 de abr. de 2021.

KANTAR IBOPE MEDIA. Covid-19: Brasil. Junho de 2020. Disponível em: https://www.kantaribopemedia.com/brasil-covid-19-19-3/. Acesso em: 08 de abr. de 2021.

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