Em ambiente de receio, confiança individual no emissor e no retransmissor é central no consumo de informações políticas, aponta nova pesquisa
Terceira edição de estudo sobre comportamentos e percepções em aplicativos de mensageria privada é lançado pelo InternetLab em parceria com a Rede Conhecimento Social.
Com o objetivo de analisar as relações entre informação política e meios de comunicação, o relatório “Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens: hábitos e percepções” chega em sua 3ª edição (2022-2023). A pesquisa é realizada a partir da cooperação entre o InternetLab e a Rede Conhecimento Social.
Nesta edição, a abordagem quantitativa trabalhou com 3.121 entrevistas distribuídas nas 5 regiões do Brasil, enquanto o enfoque qualitativo voltou-se para a análise de discussões em plataformas digitais, contando com exame do material coletado em 9 grupos. Em ambos os casos, as pessoas interlocutoras da pesquisa eram maiores de 16 anos, com acesso à internet e usuárias do WhatsApp e/ou Telegram e/ou outros aplicativos de trocas de mensagem. Foram considerados critérios como escolaridade, posicionamento político e porte do município.
O relatório passa por tópicos como: o perfil da amostra quantitativa, considerando fatores como raça, gênero e escolaridade; os principais usos dos aplicativos de mensagem, suas frequências, predileções e diferenças; o perfil dos grupos; a comunicação política e os conflitos nesses espaços; e as interações frente ao desafio da desinformação. Todo o conjunto de informações foi compreendido de forma contextualizada, à luz das peculiaridades do momento político nacional e das intensas disputas em torno das eleições de 2022. A pesquisa traça, ainda, paralelos com resultados das edições anteriores do relatório.
Cada aplicativo uma finalidade
Mais uma vez, a pesquisa aponta que as pessoas escolhem as plataformas de forma bastante consciente e seguindo finalidades e funcionalidades específicas.
O WhatsApp se reforça como ferramenta de comunicação com pessoas próximas; o Telegram se consolida como repositório e ambiente de acesso a conteúdos diversos. O Discord segue como ambiente de troca de mensagens e expande seu uso para além dos jogos (trabalho, aula é espaço de debate em comunidade), principalmente para um público jovem, masculino e de classes sociais mais altas.
O TikTok é presente nas trocas de mensagem em outras plataformas pelo hábito de compartilhamento de prints e facilidades de envio de vídeos. O Instagram segue com relevância na troca de mensagens e consumo de notícias.
Ao longo dos anos há uma tendência de crescimento no número de aplicativos utilizados pela população, subindo de 3 para 3,5 em 2 anos. Quanto maior a escolaridade, maior a variedade de aplicativos utilizados.
Eleições nos aplicativos de mensagem
Durante as eleições de 2022, o envio de materiais para pessoas com posicionamentos políticos diferentes foi uma estratégia utilizada por 2 a cada 10 pessoas para provocar: seja para responder a alguma notícia, para defender seu candidato ou acusar o oponente. Algumas pessoas escolhem não responder às provocações, outras vão para o embate e foram frequentes as discussões que se tornaram conflitos maiores, como dissolução de grupos ou até mesmo ultrapassando o ambiente digital.
De modo geral, de 2020 (contexto de eleições municipais) para 2022 (eleições presidenciais) há uma redução no recebimento e compartilhamento de mensagens sobre as eleições.
Os tipos de mensagem com maior conversão, ou seja, aquelas que ao serem recebidas são compartilhadas, são programas e propostas de governo, declaração de voto em candidato, notícias sobre candidatos e notícias reveladoras de última hora.
O WhatsApp não ganhou nem perdeu relevância entre as eleições de 2020 e 2022 no que diz respeito à participação em grupos específicos para apoio ou divulgação de campanhas. O Telegram aparece com o mesmo peso. As campanhas que as pessoas mais têm apoiado por meio de grupos são presidencial e para cargos municipais; o senado e o governo estadual são os que têm menos engajamento.
Os aplicativos de mensagem no ecossistema informacional
A pesquisa deixa ainda mais evidente o quanto os aplicativos de mensagem estão presentes no fluxo de consumo e distribuição de informação política, porém não são os protagonistas desse processo. Essas dinâmicas são influenciadas por variáveis como confiança e reconhecimento de legitimidade do emissor e do veículo.
O WhatsApp e o Telegram se reforçam em espaços distintos e com pouca sobreposição de funções: enquanto o WhatsApp segue sendo o aplicativo mais utilizado para interação com pessoas já conhecidas (amigos, familiares, colegas de estudo ou trabalho), o Telegram cresce como ambiente para explorar novas conexões a partir de temas de interesse e grupos de afinidade.
Analisando o contexto de eleição de 2022, fica explícito o quanto pessoas que se declaram de direita estão mais presentes em ambientes que acessam novas redes de contato (ainda que dentro de uma mesma bolha) e em espaços de apoio e fortalecimento dessa rede, especialmente no Telegram.
O uso dos aplicativos é também influenciado pelo clima tenso e de valorização do ambiente político. Todo conteúdo recebido é visto com algum nível de desconfiança em relação a sua veracidade, autenticidade e idoneidade. E, ao mesmo tempo, o medo de se expressar e se posicionar politicamente é cada vez mais dominante. Assim como a saturação em relação ao fato de que o assunto “política” invadiu todos os ambientes de interação, reforçando uma visão de que mediadores têm um papel fundamental nas interações em grupos.
O estudo pode ser lido na íntegra em português.