Mapeando o comportamento de envio de mensagens com teor político no Telegram

Relatório produzido por pesquisadores da UFBA e UFSC, com apoio do InternetLab, analisa os ecossistemas de comunicação de teor político em grupos e canais do Telegram durante o processo eleitoral brasileiro de 2022.

Notícias Informação e Política 16.08.2022 por Ester Borges e

O primeiro relatório de pesquisa Democracia Digital – Análise dos ecossistemas de desinformação no Telegram durante o processo eleitoral brasileiro de 2022 aborda os efeitos provocados nos grupos e canais do Telegram pela possibilidade de bloqueio da plataforma, por decisão do Supremo Tribunal Federal em março deste ano, quando o ministro Alexandre de Moraes havia determinado a Apple e o Google retirassem o Telegram de suas lojas de aplicativos e que provedoras de serviço de internet interessem obstáculos tecnológicos para inviabilizar a sua utilização, por descumprimento de decisões judiciais e desrespeito a legislação brasileira. 

O documento analisa mais 5 milhões de mensagens em 156 grupos abertos e mais de 1 milhão em 479 canais do Telegram, enviados entre 1 de janeiro a 30 de junho de 2022. Entre as vinte mensagens de texto mais compartilhadas no período analisado, quatro tratavam do bloqueio do Telegram  e de formas de contorná-lo, seja por meio de proxies ou migrando para outras redes, outras postagens abordavam diferentes tipos de conspiracionismo anti-vacina e de temas políticos como voto auditável, uso do pix enquanto mecanismo para “desmascarar” uma suposta “fraude eleitoral” e mensagens para as mobilizações de rua do 1º de maio de 2022. Entre as tendências de comportamento nos grupos após a ameaça de bloqueio foram  percebidas: mudanças de nomes, o apagamento sistemático de mensagens e o fechamento de grupos e canais (ou mudança para modos privados de conversa). Além disso,  com o aumento das campanhas de combate à desinformação promovidas pelo TSE, houve aparentemente uma acentuação da preferência por plataformas com menos restrições aos conteúdos e discursos com destaque para a circulação de links e perfis do GETTR.

O relatório é resultado do desdobramento do projeto Ecossistema de desinformação e propaganda computacional no aplicativo Telegram conduzido por pesquisadores da UFBA e da UFSC e apoiado pelo InternetLab em 2021 no âmbito do edital de seleção de pesquisas sobre o uso de técnicas de manipulação em redes sociais. Considerando uma estrutura interdisciplinar de mapeamento, monitoramento e análise multi-método (quantitativa e qualitativa) de grupos e canais abertos de cunho político no Telegram, os pesquisadores coletaram conteúdos de áudio, vídeo e imagens compartilhados no aplicativo– buscando compreender as narrativas, valores, gramáticas e lógicas de ação de grupos extremistas no Brasil. Ao longo do processo eleitoral, serão organizados ainda outros três relatórios sobre temas atuais da agenda de estudos de comunicação digital. 

O primeiro relatório completo está disponível para leitura em português.

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