Diversidade e inclusão no campo dos direitos digitais
InternetLab lança roteiro que busca auxiliar no engajamento de organizações, a partir de reflexões críticas sobre práticas de diversidade e inclusão.
Quase 70% dos profissionais do setor de tecnologia já se sentiu desconfortável no trabalho em razão de sua identidade, origem socioeconômica ou transtorno de neurodesenvolvimento, de acordo com o relatório de 2021 publicado pela mthree. Metade das pessoas entrevistadas ainda afirmou ter saído ou demonstrado interesse em sair da indústria tecnológica devido à cultura organizacional da empresa. Ainda que esse contexto seja conhecido, não podemos naturalizá-lo e precisamos ser críticos(as) em relação ao modo como o campo da tecnologia tem se construído historicamente.
Diante disso, questionamos: como nós, enquanto organizações do campo de direitos digitais – que têm denunciado e discutido continuamente violações a direitos na concepção, compra e uso de tecnologias – podemos contribuir para a produção e fortalecimento de um campo mais diverso e inclusivo? Quais são as nossas fragilidades quando nos dispomos a construir cenários que impulsionam a equidade social?
Em busca de encontrar caminhos para ampliar esse debate e ajudar a fortalecer o desenvolvimento de políticas e ambientes profissionais mais diversos e inclusivos, o InternetLab, em conjunto com colaboradores de diferentes organizações, lança nesta segunda-feira (29) o material “Diversidade, inclusão e direitos digitais: roteiro para processos de pesquisa, advocacy e composição de equipe”. O objetivo é auxiliar na construção de reflexões críticas sobre como entidades do campo de direitos digitais têm reconhecido e implementado práticas de diversidade e inclusão em atividades de pesquisa, advocacy e na composição de suas equipes.
Desenvolvido como um guia prático, o roteiro foi estruturado em seis blocos de afirmações, para serem autoavaliadas por organizações, relacionadas à diversidade e à inclusão no que tange aos seguintes temas:
[1] Composição e políticas da organização;
[2] Formulação do projeto e objetivos de pesquisa e advocacy;
[3] Formulação de estratégias de pesquisa e advocacy;
[4] Partes interessadas envolvidas no projeto;
[5] Equipe envolvida no projeto; e
[6] Segurança de dados.
Contexto de produção do roteiro de diversidade
Em maio de 2021, o InternetLab foi convidado a facilitar um workshop sobre gênero e inclusão em programas de direitos digitais para organizações parceiras da Argentina, Indonésia, Malásia, Nigéria e Quênia. A atividade integrou um projeto internacional, do qual o InternetLab faz parte, coordenado pela Global Partners Digital e pela Global Network Initiative. O projeto busca elevar o nível de proteção e respeito aos direitos humanos por empresas de tecnologia à luz dos Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos.
A partir do workshop, identificamos que a percepção sobre diversidade e inclusão entre as organizações de direitos digitais difere significativamente, tanto no que diz respeito às perspectivas culturais, geográficas, sociais e econômicas, quanto às limitações relativas ao tamanho e aos recursos de cada organização. Dessa forma, percebemos que a produção de um roteiro sobre diversidade e inclusão seria de grande valia para reunir e compartilhar aprendizados relacionados à diversidade e inclusão no campo dos direitos digitais – e, para isso, contamos com a colaboração de profissionais de diversas organizações com quem temos dialogado ao longo dos anos.
O roteiro é, assim, um guia inicial, que deverá ser sempre pensado em relação a novos debates no campo dos direitos digitais e humanos. Acesse na íntegra “Diversidade, inclusão e direitos digitais: roteiro para processos de pesquisa, advocacy e composição de equipe”. Você também pode conferir o material na versão em inglês.
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Agradecemos imensamente a contribuição de todas as pessoas e organizações envolvidas: Ana Beatriz Felício (Agência Mural), Daniela Araújo (MariaLab), Graciela Natanhson (Docente UFBA), Kathryn Doyle (Global Partners Digital), Lucas Bulgarelli (Instituto Matizes), Mariana Penteado (Casa 1), Marisa Villi (Rede Conhecimento Social), Natália Neris (Pesquisadora USP), Paulo Rená da Silva Santarém (Instituto Beta) e Silvana Bahia (Olabi).