Acompanhamos na sexta-feira passada, 17 de agosto, as manifestações no Twitter ligadas ao debate entre os pré-candidatos à Presidência transmitido pela RedeTV!, que, em parceria com o Facebook, Twitter, UOL, YouTube e IstoÉ, promoveu a maior transmissão multiplataforma do Brasil, alcançando a marca de aproximadamente 300 mil pessoas assistindo ao programa de forma simultânea nas plataformas digitais. No Twitter, a hashtag #DebateRedeTV manteve-se em primeiro lugar nos Trending Topics do Brasil das 22:12 até momentos depois do fim da transmissão, e os temas tratados durante o debate foram altamente repercutidos.

Entretanto, além do debate na RedeTV! ter obtido média de 3,4 pontos de audiência em São Paulo, de acordo com dados do IBOPE – frente a 6,2 pontos conquistados pelo debate promovido na Band -, a repercussão no Twitter dos pré-candidatos foi menor, exceto no caso da pré-candidata da REDE, Marina Silva.

Repercussão geral dos presidenciáveis

Os pré-candidatos Ciro Gomes (PDT) e Alvaro Dias (Podemos) tiveram apenas 30% da repercussão que alcançaram no debate da Band. Henrique Meirelles (MDB) e Jair Bolsonaro (PSL) foram, entre os pré-candidatos que tiveram a repercussão reduzida em relação ao debate da Band, aqueles que menos perderam mobilizações nas redes: tiveram, respectivamente, 70 e 60% da repercussão alcançada na Band. Por fim, a pré-candidata Marina Silva foi a única que conseguiu aumentar a repercussão no debate da RedeTV!: alcançou a marca 113% em relação ao obtido no debate da Band.

As tabelas abaixo comparam o desempenho dos pré-candidatos na rede social durante os debates da Band e da RedeTV!, apontando a média de tuítes por minuto de cada candidato e a variação de uma transmissão para outra:

BAND

REDETV

Como se pode observar, Jair Bolsonaro foi mais uma vez o pré-candidato que mais repercutiu na rede social durante o debate, obtendo a maior média (928 tuítes por minuto). Entretanto, assim como no debate da Band, a maior parte dessas manifestações foram retuítes: enquanto apenas 34% foram tuítes “originais”, 66% das menções ao pré-candidato foram retuítes – o que pode indicar uma mobilização mais “passiva”. De outro lado, 55% das menções a Alvaro Dias foram tuítes e apenas 45% foram retuítes.

Marina Silva e Jair Bolsonaro: entre colas e polarizações

Aproximadamente às 23h50, Jair Bolsonaro perguntou a Marina Silva sobre o púlpito vazio de Lula e sobre porte de armas. Depois disso, os presidenciáveis discutiram sobre a suposta contradição alegada pelo pré-candidato do PSL entre a religião de Marina e sua posição favorável a um plebiscito para a questão do aborto. Às 23h54, Marina Silva, após sua resposta a Bolsonaro, alcançou pico de 2.721 tuítes – o maior entre os presidenciáveis.

Ainda nesse embate entre os pré-candidatos, uma foto tirada no momento em que Bolsonaro fazia a pergunta registrou anotações na mão esquerda do pré-candidato com os termos “pesquisa”, “armas” e “Lula”. Às 23h51, a palavra “cola” alcançou seu pico no Twitter, sendo mencionada em 11.834 tuítes e retuítes.

Tanto no caso das menções a Marina quanto a Bolsonaro, observa-se intensa polarização. As redes de retuítes abaixo mostram os tuítes mais compartilhados para Bolsonaro e Marina. Cada ponto em destaque é uma conta que publicou um ou mais tuítes que foram amplamente retuitados, enquanto cada ligação entre os pontos indica um retuíte. No momento em que um usuário retuíta tuítes de contas diferentes, essas contas ficam mais próximas no grafo. A partir disso, contas que possuem “afinidade” entre si (na medida que são retuitadas por usuários em comum) aproximam-se no grafo.

É importante notar que a polarização a favor de Bolsonaro se dividiu em dois grupos: o cluster lilás composto por perfis de direita no Twitter (@Ro_Moller, @flavio morgen, @BlogDoPim, etc.), e o cluster preto com os perfis do pré-candidato e de seu filho (Flávio Bolsonaro).

Em relação à rede de retuítes de Marina Silva, nota-se que perfis de direita que apareceram na rede de Bolsonaro (@Ro_Moller, @BlogDoPim), assim como contas apoiadoras do pré-candidato (@BolsonaroSP), localizadas no cluster lilás, se contrapuseram fortemente aos perfis favoráveis à pré-candidata da REDE (no cluster verde), em grande polarização. O cluster preto da rede de retuítes de Marina não se refere à pré-candidata – está ligado à notícia do envio de auxílio da marinha americana aos refugiados venezuelanos na Colômbia, que foi reportado em espanhol durante o debate (https://twitter.com/AlbertoRodNews/status/1030622991795843073).

Temas quentes: bíblia, 50 tons de Temer, cédulas

Uma série de temas mencionados durante o debate tiveram significativa repercussão no Twitter, e alguns deles alcançaram pico máximo de menções na rede social logo após um dos pré-candidatos tê-los mencionado durante a transmissão. É justamente o que se observa em relação aos termos “bíblia”, “50 tons de Temer” e “cédulas”.

Aproximadamente às 22h48, Jair Bolsonaro perguntou a Cabo Daciolo sobre a legalização de drogas e aborto. Cabo Daciolo, em sua última fala, pegou uma bíblia que levou ao programa, comentando os temas mencionados, assim como no debate da Band. Dessa forma, mais uma vez o termo “bíblia” teve súbita expansão no Twitter, alcançado pico de 683 tuítes às 22h49 – no debate Band, o pico para o mesmo termo foi de 4.066 tuítes, ao final do programa quando Daciolo leu um trecho da bíblia.

Logo após esse episódio, aproximadamente às 22h50, Daciolo perguntou a Guilherme Boulos sobre supostas manipulações de eleições no Brasil por meio de fraudes em urnas eletrônicas, afirmando que o voto em cédula seria o ideal. O termo “cédulas” teve pico às 22h54, com 1.827 tuítes.

Outra discussão entre Daciolo e Boulos que mobilizou fortemente a rede se deu às 23h57, quando o primeiro perguntou ao último sobre a “velha política” que estaria representada no debate por políticos conhecidos no Brasil. O pré-candidato do PSOL reconheceu que muitos dos pré-candidatos do debate fariam parte da política tradicional, utilizando-se mais uma vez da expressão “50 tons de Temer”, que teve seu pico à 00h01, com 2.425 tuítes.

Mulheres e salário

O tema dos salários das mulheres apareceu duas vezes no debate: em primeiro lugar, às 23h31, em pergunta feita por Meirelles a Bolsonaro; depois, aproximadamente às 23h50, no embate entre o último e Marina Silva, em que a pré-candidata da REDE mencionou as diversas injustiças sofridas pelas mulheres.

Entre 21h e 23h, apenas 8 manifestações no Twitter utilizaram os termos “mulher” e “salário” em um mesmo tuíte. Após a pergunta de Meirelles a Bolsonaro (23h31), as manifestações que mencionaram “mulher” e “salário” no mesmo tuíte mantiveram uma média de quase 20 tuítes por minuto.

[1] Fizemos buscas com os sobrenomes dos candidatos, com exceção de Marina Silva e Alvaro Dias, que mapeamos pelo primeiro nome, por identificar que é assim que se referem a eles nas redes sociais. Realizamos uma checagem amostral e não identificamos grandes ruídos na utilização de apenas “Marina” e apenas “Alvaro” (como quantidades significativas de tuítes se referindo a outra Marina durante o debate).

Notas metodológicas

Analisamos mais de meio milhão de tuítes com os termos: “Boulos”, “debate”, “debateRedeTV”, “Bolsonaro”, “Ciro”, “Bíblia”, “Alckmin”, “Marina”, “Alvaro”, “Meirelles”, “Daciolo”, “Levy Fidelix”, “púlpito”, “tse”, “emprego”, “cédulas”, “50 tons”, “banqueiro”, “mulher salario”, “aborto”, “cola”. 

Para o levantamento dos dados analisados, foram utilizados alguns scripts escritos na linguagem Python, além de uma tabela de um banco de dados em MySQL disponíveis no github do InternetLab. Para a configuração das redes de retuítes, utilizamos a ferramenta open source Gephi. Por fim, os gráficos foram feitos por meio da ferramenta online Google Drive.

Equipe responsável pelo conteúdo: Lucas Lago (lucas.lago@internetlab.org.br), Victor Pavarin (victor.pavarin@internetlab.org.br) e Mariana Valente (mariana@internetlab.org.br).

Imagem em destaque: Paulo Whitaker (Reuters)