Na última quinta-feira, 10 de agosto, acompanhamos as manifestações no Twitter sobre o debate entre os candidatos à Presidência promovido pela Band. A emissora obteve pontuação de 6,2 pontos de audiência, de acordo com dados consolidados do Ibope. No Twitter, a hashtag #DebateBand foi utilizada em 564.064 tuítes e retuítes durante a transmissão, alcançando pico de 5.185 às 00h05. O gráfico abaixo mostra a utilização da hashtag antes, durante e depois da exibição do debate.

Repercussão geral dos presidenciáveis 

Os pré-candidatos foram altamente mobilizados no Twitter durante o debate. Jair Bolsonaro foi quem mais repercutiu nas redes: foram ao todo 306.476 menções ao pré-candidato do Partido Social Liberal (PSL) no decorrer da transmissão. Na sequência vieram Cabo Daciolo (191.086), Ciro Gomes (154.033), Guilherme Boulos (134.987), Marina Silva (84.312), Geraldo Alckmin (76.139), Alvaro Dias (76.092) e Henrique Meirelles (47.150).¹

Bolsonaro ainda obteve a maior média de menções por minuto (1.564). Contudo, o maior pico de tuítes ficou com o pré-candidato Cabo Daciolo (4.603 tuítes à 00h04 – quase mil tuítes a mais que os do pico de Bolsonaro). Além disso, foi notável expansão das menções a Daciolo ao longo do programa – ele terminou em 2º lugar, à frente de presidenciáveis conhecidos na política brasileira, como Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Marina Silva.

A despeito de Jair Bolsonaro ter obtido o maior número de menções, 67,9% delas ocorreram por meio de retuítes – a maior porcentagem de retuítes entre todos os pré-candidatos -, enquanto apenas 32,1% das referências ao pré-candidato se deram por meio de tuítes (“originais”). De outro lado, 54,4% das menções à pré-candidata da Rede Sustentabilidade, Marina Silva, foram retuítes, enquanto 45,6% foram tuítes “originais” – a maior porcentagem de tuítes.

#BolsonaroNaBand, #EstouComBolsonaro e #CapitãoNaBand

A repercussão no Twitter de Jair Bolsonaro durante o debate se deu essencialmente por meio de três hashtags: #BolsonaroNaBand, #EstouComBolsonaro e #CapitãoNaBand. A primeira alcançou o maior pico: 3.041 tuítes às 23h51. É possível notar que as hashtags referentes ao pré-candidato, mais uma vez, tiveram significativo impacto na rede social, embora tenham se dissipado na parte final da transmissão.

A hashtag #EstouComBolsonaro já estava em alta antes do início do programa, às 22h, tendo alcançado seu pico às 22h24, com 1.809 tuítes – após a discussão entre Jair Bolsonaro e Guilherme Boulos, aproximadamente às 22h21, que envolveu a questão de uma funcionária do primeiro, além de temas como machismo, racismo, homofobia e moradia. Contudo, a hashtag foi perdendo força e, depois das 23h25, não conseguiu novamente alcançar a marca de mais de mil tuítes por minuto.

Por fim, a hashtag #CapitãoNaBand, de menor repercussão, teve como pico aproximadamente o momento em que o pré-candidato falou sobre as escolas militares: 995 tuítes às 23h25.

Temos como hipótese que os usuários mudam de hashtag como estratégia para figurar nos trending topics do Twitter.

A hashtag #BolsonaroNaBand foi trending topic n. 1 durante todo o programa. #DebateBand figurava acima de todas, mas foi trending topic patrocinada (e portanto não entra na métrica “orgânica” do Twitter de trending topics).

Debate na Band versus RodaViva: a repercussão de Bolsonaro

Na semana passada, analisamos a repercussão no Twitter da participação de Jair Bolsonaro no programa Roda Viva e verificamos a alta repercussão da hashtag #BolsonaroNoRodaViva. Para a comparação com o debate transmitido pela Band, verificamos as médias das hashtags que se referiram ao pré-candidato mais mobilizadas nas respectivas transmissões. Como o programa RodaViva tem duração de apenas 90 minutos (22h15 às 23h45), ao passo que o debate da Band desenrolou-se por mais de 3 horas (22h à 1h15), seria inadequado comparar as hashtags pela quantidade total de tuítes com cada uma.

Enquanto a hashtag #BolsonaroNaBand obteve média de 1.040 tuítes por minuto durante o debate, #BolsonaroNoRodaViva obteve 1.222 tuítes por minuto durante o programa da Tv Cultura.

Cabo Daciolo e Ciro: o Plano Ursal

Aproximadamente à 00h04, Cabo Daciolo dirigiu uma pergunta a Ciro Gomes sobre o Foro de São Paulo e o “Plano Ursal”, o que parece ter sido responsável por gerar súbitas expansões de manifestações ligadas aos pré-candidatos. Nesse horário, houve o pico de menções ao pré-candidato pelo Patriota, com 4.603 tuítes. As menções ao pré-candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT) tiveram pico à 00h09 – após a resposta de Ciro Gomes a Daciolo -, com 3.319 tuítes.

Daciolo ainda foi responsável pelo considerável número de tuítes que continham o termo “bíblia”. Ao final do programa, o pré-candidato leu um trecho de um exemplar que levou ao programa. À 1h08, 4.066 tuítes mencionaram “bíblia”. O gráfico abaixo acompanha a utilização das hashtags “Cabo Daciolo”, “ursal” e “bíblia”. Observa-se que o candidato teve forte impacto na rede social.

Onde estiveram Lula e Amoêdo? Presidenciáveis fora do debate

Os pré-candidatos João Amoêdo e Luis Inácio Lula da Silva (Lula) – respectivamente, pelo Partido Novo (NOVO) e pelo Partido dos Trabalhadores (PT) – não participaram do debate exibido pela Band. Enquanto João Amoêdo não foi convidado pela emissora pelo fato de seu partido não obter pelo menos 5 parlamentares no Congresso Nacional, Lula está preso por condenação na operação Lava Jato.

O pré-candidato do NOVO tem protestado em suas redes sociais, pedindo aos seus eleitores que mobilizem a hashtag #AmoêdoNosDebates. No dia do debate, Amoêdo alterou sua foto de perfil no Facebook utilizando a hashtag #JoãoNaBand, que repercutiu no Twitter.

O PT, por sua vez, realizou uma live no Facebook, durante a transmissão do debate da Band, com Fernando Haddad, Manueal D’Ávila, Gleisi Hoffmann e Sérgio Gabrielli, convocando um tuítaço com a hashtag #DebateComLula para divulgar seu debate “paralelo”.

A despeito dos esforços do NOVO e do PT para alavancarem suas respectivas hashtags, o gráfico abaixo mostra a forte predominância de #DebateBand em relação às hashtags #DebateComLula e #JoãoNaBand. Mesmo estando Lula em primeiro lugar nas pesquisas, durante o debate, o que está acontecendo na TV é mesmo o que dita a conversa no Twitter.

Polarizações no debate

A polarização no Twitter entre direita e esquerda pode ser visualizada na rede de retuítes abaixo, que mostra os tuítes mais compartilhados para a hashtag #DebateBand: cada ponto em destaque é uma conta que publicou um ou mais tuítes que foram amplamente retuitados, enquanto cada ligação entre os pontos indica um retuíte. No momento em que um usuário retuíta tuítes de contas diferentes, essas contas ficam mais próximas no grafo. A partir disso, contas que possuem “afinidade” entre si (na medida que são retuitadas por usuários em comum) aproximam-se no grafo.

O cluster verde é o grupo que representa tuítes mais ligados à direita, tendo como nó mais expressivo a conta @BlogDoPim. O cluster laranja, por sua vez, é composto por tuítes mais próximos à esquerda, e tem como nó mais expressivo a conta @itspedrito. Os clusters roxo e dourado têm como pontos principais contas que veicularam conteúdo humorístico – @sensacionalista e @william_castro, respectivamente. Enquanto os tuítes da primeira são retuitados principalmente por pessoas que se identificam mais com a esquerda, o perfil @william_castro postou tuítes que foram retuitados por ambos os grupos.

O cluster rosa possui nós centrados em @GuilhermeBoulos, @Haddad_Fernando e @LulaOficial, representando a discussão mobilizada pelo Partido dos Trabalhadores (PT). O cluster vermelho, por sua vez, tem como ponto principal a conta de João Amoêdo, e provavelmente é composto pelo questionamento do pré-candidato sobre sua ausência no debate.

A rede de retuítes abaixo mostra as manifestações com o termo “Bolsonaro”. Assim como ocorreu na transmissão do programa RodaViva, a discussão no Twitter durante o debate da Band em relação à participação de Bolsonaro foi extremamente polarizada.

No cluster azul/preto estão contas que publicaram tuítes apoiando o pré-candidato, sendo possível visualizar nós expressivos em @CarlosBolsonaro, @BolsonaroSP e @BlogDoPim. No cluster do lado esquerdo, composto pelas outras cores, estão contas que publicaram tuítes críticos a Bolsonaro.

A repercussão em retuítes do pré-candidato Geraldo Alckmin pode ser visualizada pela rede abaixo, configurada pela busca com a palavra “Alckmin”.

É importante observar o isolamento de Alckmin em sua rede social. O cluster da conta do pré-candidato (no canto inferior esquerdo) não está próximo a nenhum outro cluster com contas altamente mobilizadas (como a região localizada no lado direito da rede) e nem a uma das contas que tiveram alta repercussão (como os perfis @DaniloGentili e @sensacionalista). Isso pode apontar para um fraco engajamento do próprio candidato com a rede, mesmo entre quem pode ser seu apoiador.

O sucesso de Ricardo Boechat

Ricardo Boechat, mediador do debate na Band, também foi responsável por uma série de manifestações no Twitter. O pico de menções a “Boechat” se deu à 0h05 (902 tuítes), momento em que o mediador fez uma piada durante o debate com o sistema de vídeo-arbitragem (VAR).

[1] Fizemos buscas com os sobrenomes dos candidatos, com exceção de Marina Silva e Álvaro Dias, que mapeamos pelo primeiro nome, por identificar que é assim que se referem a eles nas redes sociais. Realizamos uma checagem amostral e não identificamos grandes ruídos na utilização de apenas “Marina” e apenas “Álvaro” (como quantidades significativas de tuítes se referindo a outra Marina durante o debate).

Notas metodológicas

Analisamos ao todo 1.476. 363 tuítes com os termos: “Boulos”, “Boulosnaband”, “debateband”, “Bolsonaro”, “Lula”, “DebateComLula”, “Ciro”, “Ciro Gomes”, “Bíblia”, “Alckmin”, “Marina”, “Alvaro”, “joaonaband”, “BolsonaroNaBand”, “Eduardo Jorge”, “Boechat”, “Alvaro Dias”, “Henrique Meirelles”, “meirelles”, “OlhoNoCandidatoOlhoNoVoto”, “Cabo Daciolo”, “Daciolo”, “Levy Fidelix”, “estoucombolsonaro”, “ursal”, “CapitãoNaBand” e “Marina Silva”. 

Para o levantamento dos dados analisados, foram utilizados alguns scripts escritos na linguagem Python, além de uma tabela de um banco de dados em MySQL disponíveis no github do InternetLab. Para a configuração das redes de retuítes, utilizamos a ferramenta open source Gephi. Por fim, os gráficos foram feitos por meio da ferramenta online Google Drive.

Equipe responsável pelo conteúdo: Lucas Lago (lucas.lago@internetlab.org.br), Mariana Valente (mariana@internetlab.org.br) e Victor Pavarin (victor.pavarin@internetlab.org.br).

Imagem em destaque: Kelly Fuzaro/Band