Conectar, visibilizar e desafiar: um espaço virtual para mulheres queer e pessoas não binárias
InternetLab, em parceria com Lux Ferreira, inicia projeto de pesquisa para analisar processos e mecanismos de interação, as relações e engajamento entre mulheres LBT e pessoas não binárias em plataforma Ella Global Community.
Nos dias atuais, grande parte da dinâmica de interação entre pessoas LBGTQIA+, tanto do ponto de vista político, de debates, militância e circulação de conhecimento, quanto da criação de laços afetivos e de comunidade, ocorre por meio da internet – mais especificamente, de redes sociais. Essa interação se dá a partir de diferentes presenças no ecossistema da internet, tais como: i) o uso das maiores plataformas por pessoas LGBTQIA+, por meio da criação de grupos no Facebook, páginas no Instagram, perfis no Twitter, canais no TikTok etc.; ii) participação em plataformas voltadas especificamente para a população LGBTQIA+.
Nessa toada, em 2020, chegou ao Brasil a plataforma Ella Global Community, fundada na Espanha em 2005. O seu objetivo é criar um espaço on e offline para mulheres queer e pessoas não binárias, a fim de fortalecer os laços comunitários locais e globais, engajar o debate político e possibilitar a criação de vínculos de amizade e de relações amorosas. Hoje, o Ella se divide em páginas no Instagram, um website e uma versão beta de um aplicativo – todos com versões em português voltadas ao público brasileiro.
Se, por um lado, esses espaços online possibilitam o debate, a troca de ideias, formas de acolhimento e a expressão da diversidade sexual e de gênero; por outro, a presença online traz também novas preocupações, como o nível de segurança desses espaços, o tratamento dos dados de populações politicamente marginalizadas, a forma como se dão as relações e interações que acontecem na internet e como o desenho das plataformas se relaciona com as particularidades da população LBGTQIA+.
Com essas preocupações, o InternetLab e Lux Ferreira, com doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo e transativista, iniciam projeto de pesquisa que tem como foco a sociabilidade, a intimidade e a segurança em ambientes virtuais entre mulheres LBT e pessoas não binárias. O projeto em questão realizará um estudo sobre o Ella Global Community.
“O desenvolvimento dessa pesquisa é especialmente interessante ao considerarmos que o Ella tem a intenção de estabelecer uma rede global entre mulheres LBT e pessoas não binárias. A empreitada do Ella nos permite também apreender as demandas, dinâmicas e potencialidades da comunidade e do contexto brasileiros em comparação com os de outros países. Também nos permite levar em conta promessas, assimetrias e dificuldades envolvidos na configuração de projetos e redes transnacionais”, afirma Lux Ferreira.
Metodologia
A pesquisa foi idealizada considerando a existência de uma lacuna na literatura acerca da temática de redes sociais, aplicativos e mulheres LBT e pessoas não binárias – considerável quando em comparação com uma vasta produção acadêmica dedicada a compreender os usos de tais tecnologias por homens gays e bissexuais. A intenção principal é mapear os processos e mecanismos de interação, as relações e engajamento entre as pessoas que fazem uso da plataforma, assim como os limites e as possibilidades apresentados pela plataforma.
Para tanto, será aplicada a metodologia da netnografia (etnografia voltada para experiências e interações na internet) sobre o website da Ella Global Community, as páginas de Instagram Ella e o aplicativo ELLA. A etnografia se somará ao estudo de documentos como termos de uso, notas legais, diretrizes de comunidade, de grupos e de eventos, políticas de privacidade e políticas de cookies, dentre outros referentes ao aplicativo, buscando principalmente avaliar a segurança e proteção de dados oferecidos pela plataforma e sua dinâmica de moderação de conteúdo.
Neste projeto, temos como intuito contribuir para o debate acadêmico sobre a sociabilidade de mulheres LBT e pessoas não binárias na internet, preencher algumas lacunas e recomendar melhores práticas no que diz respeito a oferecer ambientes online seguros pertinentes para mulheres queer e pessoas não binárias, dialogando com ativistas, especialistas e pessoas que produzem conteúdo.