Acesso a dados para pesquisa é tema de novo projeto de pesquisa do InternetLab

InternetLab busca compreender quais são os mecanismos de transparência de plataformas disponíveis em países latinoamericanos e os principais desafios que pesquisadoras(es) da região enfrentam para conduzir pesquisas em plataformas sociais.

Notícias Cultura e conhecimento 24.04.2024 por André Houang, Clarice Tavares e Fernanda K. Martins

A transparência e o acesso a dados de plataformas são partes essenciais da produção de conhecimento, do avanço de agendas de pesquisa e da defesa de melhorias em políticas de plataformas. A despeito dessa importância, a transparência das plataformas e o acesso aos seus dados variam significativamente e de acordo com diversos fatores, existindo discrepâncias importantes entre o acesso de pesquisadoras(es) dos Estados Unidos e União Europeia e do Sul Global. Esse diferente nível de acesso a dados, que pode ser visto nas diferenças na infraestrutura de universidades e no diálogo com as plataformas, afeta diretamente o potencial de produção de pesquisa de alto impacto e com diferentes perspectivas e epistemologias nessas diferentes regiões. 

Um exemplo de acesso diferenciado a dados de plataformas é a organização Social Science One, fundada pelo Facebook em 2018 e hospedada pelo Instituto de Ciências Sociais Quantitativas de Harvard. De acordo com o seu site, a organização formou um consórcio com centros de investigação em ciências sociais, especialmente nos EUA e na Europa, “para compartilhar informações sobre modelos de parcerias entre a indústria e a academia, aprender a acessar aos dados das empresas para pesquisa científica social de forma a proteger a privacidade, permitir o fluxo de informações entre os nossos setores e, simultaneamente, otimizar os interesses da academia, das empresas, dos governos, das universidades, dos reguladores e do bem público”1(tradução nossa). Embora a partir de 2019 organizações do Sul global tenham começado a participar das iniciativas da Social Science One, o acesso a dados por meio da organização ainda é desigual – em particular para pesquisadoras(es) independentes, que raramente podem acessar os dados por meio dessa iniciativa.  

Nesse contexto de protagonismo do acesso a dados de plataformas, o InternetLab desenvolve um projeto no qual objetiva:

  1. Mapear os desafios e as barreiras que pesquisadoras(es) enfrentam no acesso a dados de plataformas na América Latina;
  2.  Entender como pesquisadoras(es) latinoamericanas(os) percebem as políticas e as práticas de transparência de compartilhamento de dados das plataformas e como isso o desenvolvimento de pesquisas é afetado;
  3. Investigar como desigualdades regionais e diferenças contextuais impactam parcerias com plataformas, possibilidades de diálogo com o setor privado, e o uso de recursos para a produção de conhecimento e pesquisa científica sobre plataformas de redes sociais e novas tecnologias na América Latina, contrastando com as realidades dos Estados Unidos e Europa;
  4. Delinear possíveis futuras agendas de pesquisa e apresentar novas preocupações relacionadas à produção de conhecimento sobre plataformas digitais a partir de uma perspectiva Latino Americana; e 
  5. Ccontribuir para a qualificação da discussão sobretransparência de plataformas como um meio para fomentar a accountability e estimular a produção de pesquisa acadêmica que se atente para as desigualdades de raça, gênero, e território.  

As perguntas que guiam a pesquisa são: 

  1.  Quais são as percepções de pesquisadoras(es) latinoamericanas(os) sobre as práticas de transparência de plataformas?
  2. Quais são as barreiras identificadas por pesquisadoras(es) lartinoamericanos para a transparência significativa por plataformas?
  3. Quais quadros de transparência estão sendo implementados na região e como?

Metodologia

Para responder a essas perguntas, a pesquisa segue uma abordagem qualitativa, coletando dados por meio de grupos focais e pela realização de entrevistas semi-estruturadas em profundidade. Os grupos focais tem por objetivo facilitar o diálogo entre diferentes pesquisadoras/es, identificando pontos de consenso e divergências quanto a diferentes perspectivas, percepções e desafios que identificaram. Já as entrevistas em profundidade têm como intuito se aprofundar nos pontos identificados nos grupos focais, baseado em experiências específicas de pesquisa das(os) entrevistadas(os).

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