Reporta #6: Plataformas, aplicativos e política
Passado o primeiro turno do processo eleitoral, diferentes portais, páginas e posts pessoais vêm se debruçando sobre tentativas de balanços de candidaturas, e as variáveis raça/etnia, e orientação sexual e identidade de gênero seguem em pauta. Nesta semana, o Nexo Jornal lançou um portal interativo para identificar quão próximo (ou distante) está o perfil dos/as vereadores/as eleitos/as dos eleitores a partir desses critérios, mas também escolaridade e renda. A ideia é também mapear, nas diferentes cidades, quão diverso.
Viemos discutindo alguns dos muitos aplicativos e plataformas que, durante a campanha, buscaram mapear afinidades entre eleitores/as e candidatos/as, e alguns importantes ficaram também de fora – como os aplicativos Vote Consciente e o Quem Representa você?. É bastante claro que o tema da representatividade permeou iniciativas da sociedade civil no uso das tecnologias da informação e da comunicação (TICs), mas não só: a plataforma Privilegiômetro, por exemplo, funcionou para alertar sobre a discrepância de salário de um vereador e um trabalhador médio. Inserindo o próprio salário na plataforma, o cidadão calcula quantos anos precisaria trabalhar para ganhar o que um vereador de Belo Horizonte ganharia em um mandato.
Não foi só a sociedade civil que fez uso das TICs para facilitar discussões e mobilizações no período eleitoral: a Justiça Eleitoral também disponibilizou ao eleitor 11 aplicativos, com diversos tipos de funcionalidades. Dentre eles, o “Pardal”, que possibilita aos/às eleitores/as a denúncia de irregularidades e não conformidades nas campanhas; o “Resultados”, que permitiu acompanhamento da apuração em tempo real; o “Onde Votar ou justificar”, que presta orientações nesse sentido. Há ainda aplicativos para auxiliar o trabalho dos mesários, para acompanhamento de candidaturas, agendas e processos da Justiça Eleitoral – e todos continuarão ativos nas cidades nas quais houver segundo turno.
Tanto na Ciência Política quanto no Direito, existe uma considerável literatura buscando compreender o impacto e do uso de TICs em contextos democráticos, referindo-se à (i) mobilização da sociedade civil, (ii) informação para os cidadãos/transparência, e (iii) incrementação da participação em processos políticos e decisórios. Ainda no contexto das eleições, mas apontando para além do período eleitoral, vale mencionar uma iniciativa interessante, que se relaciona com os três itens: recém-eleita vereadora pela cidade de São Paulo, Sâmia Bomfim anunciou pretender lançar o aplicativo “AppSâmia: vereadora na palma da mão“, que, além de ter funções informativas como o acompanhamento de projetos de lei apresentados por seu mandato e consulta às prestações de contas e à sua agenda diária, tem como proposta ser um canal de denúncias sobre violações de Direitos Humanos e para envio de sugestões de projetos de lei.
O olhar para essas iniciativas revela que estamos diante de usos criativos de TICs no âmbito político. Mapeá-las e analisá-las parece constituir-se como importante agenda de pesquisa e de discussão. Nas próximas semanas, trataremos ainda de acontecimentos relacionados ao segundo turno, a reações nas redes aos resultados e faremos um balanço geral relacionando TICs, campanha e resultados.
Equipe responsável pelo conteúdo: Mariana Giorgetti Valente (mariana@internetlab.org.br), Natália Neris (natalia.neris@internetlab.org.br), Juliana Pacetta Ruiz (juliana.ruiz@internetlab.org.br) e Clarice Tambelli (clarice.tambelli@internetlab.org.br).