Jovens protagonizam ações de combate ao discurso de ódio contra mulheres
Lançada no Dia da Internet Segura, a ação é parte do projeto Reconhecer, Resistir, Remediar, feito em parceria com a Rede Conhecimento Social e o IBEAC.
Nesta terça-feira (9), Dia da Internet Segura, o InternetLab, em parceria com a Rede Conhecimento Social e o IBEAC, lança ações desenvolvidas com jovens das periferias de São Paulo em combate ao discurso de ódio online contra mulheres. As atividades foram realizadas no âmbito do projeto Reconhecer, Resistir e Remediar.
Entre os meses de março e dezembro de 2020, foram feitas oficinas que tinham como objetivo construir uma noção comum do que seria o discurso de ódio e como afetaria a vida de meninas e mulheres. Como resultado dos encontros, após nove meses de trabalho conjunto, os jovens lançaram três projetos que exploram os ambientes online e offline para dialogar e conscientizar o público sobre a problemática.
No processo que antecedeu a ação, a Rede Conhecimento Social, organização especializada em iniciativas de pesquisa participativa, atuou pensando a dinâmica das oficinas, mediando-as e fazendo o acompanhamento dos jovens; e o IBEAC, que atua na promoção de direitos e de cidadania em diferentes territórios da cidade de São Paulo, teve o papel de desenvolver paralelamente oficinas que colocavam em diálogo a literatura e o discurso de ódio.
Quatorze jovens com idades entre 16 e 26 anos, moradores de diferentes territórios periféricos da região metropolitana de São Paulo, participaram das oficinas e a cada mês receberam tarefas importantes para que o aprendizado mútuo se construísse: conversaram sobre discurso de ódio com amigos e familiares, produziram roteiros e entrevistaram pessoas de diferentes perfis sociais, a fim de que pudessem ter visões diferentes e complementares sobre o tema.
O processo das oficinas culminou em uma última missão que pudesse dar continuidade ao trabalho feito nos últimos meses: os jovens trabalharam, de forma autônoma e com o apoio de mentores e das instituições participantes, em projetos que contribuíssem socialmente para o combate ao discurso de ódio contra as mulheres online.
As iniciativas
Os jovens se dividiram em 3 grupos e cada um deles montou uma proposta diferente para dialogar com públicos diversos. Abaixo, você pode conferir cada um dos projetos e por quais razões eles foram pensados.
Podcast Pilotas
O objetivo do projeto é conectar-se com mulheres múltiplas sobre as complexidades das questões de gênero, focando no debate sobre o discurso de ódio, a partir do olhar da juventude periférica.
Julia Silva Gomes (17), Renata Herondina dos Santos (24) e Vitória Siqueira N. dos Santos (19) criaram o podcast Pilotas como um espaço em que suas “escrevivências” e de outras mulheres pudessem ser partilhadas.
“Pilotas Podcast é a nossa voz, partilha de saberes, representatividade. Reconhecemos a importância de dialogar sobre os nossos direitos, promover e ocupar os nossos espaços”, afirmam.
Composto por três episódios, os programas apresentam um bate papo entre as apresentadoras junto a especialistas sobre o discurso de ódio contra mulheres e as possíveis formas de combatê-lo socialmente. O Pilotas está disponível no Spotify e será publicado semanalmente ao longo do mês de fevereiro.
Campanha no Instagram
A incitação ao ódio e os discursos violentos são, por vezes, naturalizados socialmente. Não são todas as pessoas que percebem a necessidade de se posicionarem ou de não fazerem uso de práticas discursivas violentas. Desta forma, o diálogo é fundamental para o exercício da conscientização.
Essa é a proposta do segundo projeto: dialogar com homens de diferentes idades e regiões do país. Para tanto, por meio de uma campanha digital no Instagram, publicarão, semanalmente, cards com frases de impacto, acompanhados por textos, que fomentarão aos usuários a possibilidade de questionarem seus próprios comportamentos a respeito do discurso de ódio contra mulheres – a hashtag #todescontraódio acompanha toda a ação.
Para o grupo, composto por Alef de Paula Santos (26), Duda Pimentel (18), Nathália Milarge (23) e Priscila Hidelfonso (17), o foco vai além de atingir o público masculino e trabalhar na possibilidade de conscientizá-lo sobre o tema:
“Queremos também que o público engajado com esse tema continue promovendo a ação ‘todos contra o discurso de ódio contra mulheres’.. Nossa maior motivação é que nossos cards possam de alguma forma tocar o público.
Os cards podem ser vistos e compartilhados na página @campanhamenosodio.
Colagem de lambes pela cidade
Incentivadas pelo desejo de compartilhar o que foi aprendido durante o processo iniciado em março de 2020, o terceiro projeto decidiu atuar a partir do diálogo com as mulheres que caminham pela cidade. Com isso, surgiu a ideia de uma ação localizada: colar lambes com frases que pudessem fomentar reflexões de mulheres que moram em seus bairros.
As oficinas de lambes foram feitas online, devido à pandemia.Para Ester de Amorim Reis (20), Fernanda Santos Pereira (18) e Sara Regina da Silva Moreira (18), assim como as oficinas do projeto possibilitaram que o contato com pessoas de diferentes idades trouxessem novos conhecimentos, os lambes podem levar parte desses conhecimentos para outras pessoas.
“Queremos combater o ódio com amor, queremos lutar e ensinar, juntas somos mais fortes”.
Os processos também trouxeram grandes aprendizados. As jovens acrescentam que atuar na ação lhes deu, como presente, o autoconhecimento e a possibilidade de entender o que a sociedade pensa sobre o discurso de ódio contra mulheres: “Aprendemos que nas redes sociais esse discurso vem de formas, às vezes, até discretas, e que muitas mulheres acabam o reproduzindo, mas que só conseguimos combater e parar de produzi-los, se nós nos reunirmos e lutarmos contra”.
Os lambes serão colados, nos próximos meses, nos bairros Barragem, Nova América, Colônia, Vargem Grande, Silveira, São Noberto e Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo.
Próximos passos
O lançamento do podcast Pilotas, dos cards e dos lambes é uma das faces do projeto Reconhecer, Resistir, Remediar, uma iniciativa que tem o apoio do International Development Research Center e faz parte de uma parceria com a instituição It for Change, que, na Índia, tece questionamentos similares aos que temos feito por aqui. Nos próximos meses, o projeto continuará se desdobrando em diferentes ações, dentre elas a organização de uma pesquisa quantitativa que busca compreender como o discurso de ódio contra mulheres tem afetado a vida das mulheres brasileiras.