Ilustração com homens e mulheres que representam a ação contra o discurso de ódio online contra mulheres.

Jovens protagonizam ações de combate ao discurso de ódio contra mulheres

Lançada no Dia da Internet Segura, a ação é parte do projeto Reconhecer, Resistir, Remediar, feito  em parceria com a Rede Conhecimento Social e o IBEAC.

Notícias Desigualdades e Identidades 08.02.2021 por Fernanda K. Martins e Karina Oliveira

Nesta terça-feira (9), Dia da Internet Segura, o InternetLab, em parceria com a Rede Conhecimento Social e o IBEAC, lança ações desenvolvidas com jovens das periferias de São Paulo em combate ao discurso de ódio online contra mulheres. As atividades foram realizadas no âmbito do projeto Reconhecer, Resistir e Remediar.

Entre os meses de março e dezembro de 2020, foram feitas oficinas que tinham como objetivo construir uma noção comum do que seria o discurso de ódio e como afetaria a vida de meninas e mulheres. Como resultado dos encontros, após nove meses de trabalho conjunto, os jovens lançaram três projetos que exploram os ambientes online e offline para dialogar e conscientizar o público sobre a problemática. 

No processo que antecedeu a ação, a Rede Conhecimento Social, organização especializada em iniciativas de pesquisa participativa, atuou pensando a dinâmica das oficinas,  mediando-as e fazendo o acompanhamento dos jovens; e o IBEAC, que atua na promoção de direitos e de cidadania em diferentes territórios da cidade de São Paulo, teve o papel de desenvolver paralelamente oficinas que colocavam em diálogo a literatura e o discurso de ódio.

Ilustração com homens e mulheres que representam a ação contra o discurso de ódio online contra mulheres.
Arte de Kethlenn Oliveira.

Quatorze jovens com idades entre 16 e 26 anos, moradores de diferentes territórios periféricos da região metropolitana de São Paulo, participaram das oficinas e a cada mês receberam tarefas importantes para que o aprendizado mútuo se construísse: conversaram sobre discurso de ódio com amigos e familiares, produziram roteiros e entrevistaram pessoas de diferentes perfis sociais, a fim de que pudessem ter visões diferentes e complementares sobre o tema.  

O processo das oficinas culminou em uma última missão que pudesse dar continuidade ao trabalho feito nos últimos meses: os jovens trabalharam, de forma autônoma e com o apoio de mentores e das instituições participantes, em projetos que contribuíssem socialmente para o combate ao discurso de ódio contra as mulheres online.

As iniciativas

Os jovens se dividiram em 3 grupos e cada um deles montou uma proposta diferente para dialogar com públicos diversos. Abaixo, você pode conferir cada um dos projetos e por quais razões eles foram pensados.

Podcast Pilotas

O objetivo do projeto é conectar-se com mulheres múltiplas sobre as complexidades das questões de gênero, focando no debate sobre o discurso de ódio, a partir do olhar da juventude periférica.

Cartaz com colagens ao fundo. A colagem da esquerda é vermelha a da direita, verde e no meio acima há um símbolo da luta feminista. Sobrepostas a essas colagens, há recortes de fotos de três mulheres negras com cabelos crespos e cacheados. Duas estão sorrindo e uma terceira está séria. Embaixo, há o logo do iBeac, do InternetLab e da Rede Conhecimento Social.

Julia Silva Gomes (17), Renata Herondina dos Santos (24) e Vitória Siqueira N. dos Santos (19) criaram o podcast Pilotas como um espaço em que suas “escrevivências” e de outras mulheres pudessem ser partilhadas.

 “Pilotas Podcast é a nossa voz,  partilha de saberes, representatividade.  Reconhecemos a importância de dialogar sobre os nossos direitos, promover e ocupar os nossos  espaços”, afirmam.

Composto por três episódios, os programas apresentam um bate papo entre as apresentadoras junto a especialistas sobre o discurso de ódio contra mulheres e as possíveis formas de combatê-lo socialmente. O Pilotas está disponível no Spotify e será publicado semanalmente ao longo do mês de fevereiro.

Campanha no Instagram

A incitação ao ódio e os discursos violentos são, por vezes, naturalizados socialmente. Não são todas as pessoas que percebem a necessidade de se posicionarem ou de não fazerem uso de práticas discursivas violentas. Desta forma, o diálogo é fundamental para o exercício da conscientização.

Essa é a proposta do segundo projeto: dialogar com homens de diferentes idades e regiões do país. Para tanto, por meio de uma campanha digital no Instagram, publicarão, semanalmente, cards com frases de impacto, acompanhados por textos, que fomentarão aos usuários a possibilidade de questionarem seus próprios comportamentos a respeito do discurso de ódio contra mulheres – a hashtag #todescontraódio acompanha toda a ação.

Imagem com fundo amarelo em cima sobreposto a um fundo preto. Em branco e letras garrafais está grafado "menos ódio".

Para o grupo, composto por Alef de Paula Santos (26), Duda Pimentel (18), Nathália Milarge (23) e Priscila Hidelfonso (17), o foco vai além de atingir o público masculino e trabalhar na possibilidade de conscientizá-lo sobre o tema: 

“Queremos também que o público engajado com esse tema continue promovendo a ação ‘todos contra o discurso de ódio contra mulheres’.. Nossa maior motivação é que nossos cards possam de alguma forma tocar o público.

Os cards podem ser vistos e compartilhados na página @campanhamenosodio.

Colagem de lambes pela cidade

Incentivadas pelo desejo de compartilhar o que foi aprendido durante o processo iniciado em março de 2020, o terceiro projeto decidiu atuar a partir do diálogo com as mulheres que caminham pela cidade. Com isso, surgiu a ideia de uma ação localizada: colar lambes com frases que pudessem fomentar reflexões de mulheres que moram em seus bairros.

Imagem de telas de word sobrepostas com os escritos "Quais coisas você já deixou de fazer por ser mulher?" em diferentes fontes em preto.

As oficinas de lambes foram feitas online, devido à pandemia.Para Ester de Amorim Reis (20), Fernanda Santos Pereira (18) e Sara Regina da Silva Moreira (18), assim como as oficinas do projeto possibilitaram que o contato com pessoas de diferentes idades trouxessem novos conhecimentos, os lambes podem levar parte desses conhecimentos para outras pessoas.

“Queremos combater o ódio com amor, queremos lutar e ensinar, juntas somos mais fortes”. 

Os processos também trouxeram grandes aprendizados. As jovens acrescentam que atuar na ação lhes deu, como presente, o autoconhecimento e a possibilidade de entender o que a sociedade pensa sobre o discurso de ódio contra mulheres:  Aprendemos que nas redes sociais esse discurso vem de formas, às vezes, até discretas, e que muitas mulheres acabam o reproduzindo, mas que só conseguimos combater e parar de produzi-los, se nós nos reunirmos e lutarmos contra”.

Os lambes serão colados, nos próximos meses, nos bairros Barragem, Nova América, Colônia, Vargem Grande, Silveira, São Noberto e Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo.

Próximos passos

O lançamento do podcast Pilotas, dos cards e dos lambes é uma das faces do projeto Reconhecer, Resistir, Remediar, uma iniciativa que tem o apoio do International Development Research Center e faz parte de uma parceria com a instituição It for Change, que, na Índia, tece questionamentos similares aos que temos feito por aqui. Nos próximos meses, o projeto continuará se desdobrando em diferentes ações, dentre elas a organização de uma pesquisa quantitativa que busca compreender como o discurso de ódio contra mulheres tem afetado a vida das mulheres brasileiras.

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