InternetLab lança relatório de atividades 2016-2017
Dentre os anos de 2016 e 2017, demos importantes passos na consolidação da nossa estrutura, nossas áreas e métodos de atuação. Nesta publicação, compartilhamos parte das atividades que realizamos no período, por área e por setor (acadêmico, com instituições, com o setor privado, e com comunidades). A Carta da Diretoria, reproduzida abaixo, abre o relatório, expressando nossa visão institucional.
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Carta da Diretoria
Por que fazer pesquisa é nossa estratégia de incidência?
Em 2014, fundamos o InternetLab como um centro independente de pesquisa. Como pesquisadores vinculados à Universidade de São Paulo, tínhamos consciência do potencial da pesquisa como ferramenta de análise e transformação social. Encontrávamos, entretanto, nas estruturas burocráticas da USP, algumas amarras que não nos permitiam articular estratégias e eficazes de incidência, o que demandava mais investimento e autonomia.
Nascemos no mesmo ano da aprovação do aclamado Marco Civil da Internet, da conferência NetMundial, e poucos anos depois do número de usuários de Internet no país ter ultrapassado mais da metade da população. Esses marcos inauguraram um novo momento para a discussão de Internet no Brasil; a tecnologia passou a mediar de vez a agenda política e as relações sociais, atraindo a atenção do Judiciário, do Legislativo e do Executivo.
Naquele momento, tínhamos múltiplas preocupações. De um lado, a dura realidade social brasileira parecia engendrar o risco de que também no âmbito da tecnologia fossem reproduzidas desigualdades e violações às liberdades civis, de forma que era imperativo agregar em torno do tema defensores de direitos humanos de diferentes perfis. De outro lado, a tradição forense e manualesca de pesquisa na área jurídica no Brasil, aliada à pouca familiaridade dos operadores do direito com o funcionamento técnico das novas tecnologias, tornavam áridas as discussões de políticas públicas nesse campo.
Nesse contexto, percebemos que mediar o debate e construir pontes de diálogo entre diferentes setores era tarefa primordial para que avanços tecnológicos convergissem com a garantia de direitos humanos. Para ocupar esse papel de mediadores e aproximar atores e instituições das nossas pautas, tínhamos como primeiro desafio angariar legitimidade. Nossas credenciais acadêmicas e bagagem de pesquisa no campo das políticas de Internet foram essenciais para abrir portas. Mantê-las abertas, entretanto, exigia mais que isso: precisaríamos comprovar nossa capacidade de contribuir com o debate oferecendo pesquisas de impacto, isentas e relevantes.
Ao longo dos nossos 3 primeiros anos de atuação, esse foi nosso principal foco. Estruturamos linhas de pesquisa que abordavam questões até então inéditas no Brasil: fomos pioneiros nos debates sobre economias do compartilhamento e sobre questões ligadas à violência de gênero na Internet. Em outros temas, como privacidade e liberdade de expressão, aprofundamos as discussões com pesquisas que apresentaram dados mais concretos sobre a realidade no país.
A qualidade e o rigor metodológico de nossas pesquisas foram fundamentais para nos consolidar como referência e manter abertas as portas que abrimos. Participamos de mais de 10 audiências públicas no Congresso Nacional, contribuímos com os trabalhos do Supremo Tribunal Federal e do Ministério Público da União, do Ministério da Justiça, da Defensoria Pública e do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Fomos convidados para eventos em mais de 15 países. Desde 2014, já fomos citados mais de 200 vezes pela mídia nacional e internacional.
A legitimidade acadêmica que conquistamos veio acompanhada de uma preocupação constante com nossas estratégias de comunicação e engajamento. Pensar formas inovadoras de divulgar resultados de pesquisa e de difundir o conhecimento também tem sido um de nossos principais desafios. De livros a vídeos e materiais multimídia, a diversidade de formatos é importante para alcançar públicos diferentes, dos mais jovens e engajados aos mais experientes e convencionais.
Ao erguer nossa estrutura institucional independente, também não abandonamos a Universidade. Seja lecionando, seja estabelecendo parcerias institucionais para cursos e eventos, vemos o espaço universitário como importante ponto de incidência, oferecendo aos futuros profissionais e pesquisadores as ferramentas necessárias para enfrentar esses debates de forma crítica e informada.
Em 2017, temos clareza de que nosso diferencial está em apostar na pesquisa como estratégia de incidência. Ao gerar diagnósticos precisos sobre a realidade brasileira, somos capazes de atuar como importantes mediadores dos debates sobre tecnologia, políticas públicas e direitos humanos. Por essa razão, nosso trabalho é ao mesmo tempo essencial e complementar ao de outras organizações: a combinação entre produção de conhecimento e a mediação entre diferentes setores ocupa, hoje, um espaço estratégico na construção de um Brasil mais conectado e menos desigual.
Dennys Marcelo Antonialli | Diretor Presidente
Mariana Giorgetti Valente | Diretora
Francisco Brito Cruz | Diretor