Imagem do projeto com um X preto centralizado envolvendo o texto: você na mira

A campanha digital e o impulsionamento de conteúdo pelas candidaturas à Câmara dos Deputados

O terceiro relatório do 'Você na Mira' examina o uso das ferramentas de impulsionamento de conteúdo pelas candidaturas eleitas para a Câmara dos Deputados.

Notícias Informação e Política 13.11.2018 por Beatriz Kira, Heloisa Massaro e Francisco Brito Cruz

No contexto das eleições 2018, o InternetLab está publicando uma série de relatórios sobre as ações de marketing digital das candidaturas, com o objetivo de trazer mais transparência para as campanhas eleitorais online. Tais estudos fazem parte do projeto Você na Mira, que permite monitorar o microdirecionamento de propaganda política no Facebook, em parceria com o WhoTargets.MeNo primeiro relatório analisamos algumas práticas de impulsionamento dos pré-candidatos à presidência no período pré-eleitoral, e no segundo relatório olhamos para as campanhas dos presidenciáveis durante o primeiro mês do período eleitoral.

Neste terceiro relatório, o foco foi no uso das ferramentas de impulsionamento de conteúdo pelas candidaturas eleitas para a Câmara dos Deputados. Além das informações sobre os anúncios políticos coletadas pela ferramenta Você na Mira, coletamos dados sobre as despesas totais de campanha e com impulsionamento de conteúdo, os votos recebidos, e o número de seguidores em redes sociais. O objetivo principal foi revelar práticas de campanha digital, analisando, principalmente, a relevância, ou não, do impulsionamento de conteúdo como estratégia digital das campanhas eleitas.

O relatório completo está disponível aqui.

Abaixo, uma seleção dos maiores destaques da pesquisa. Confira:

O rastro do dinheiro: gastos declarados com impulsionamento de conteúdo

Olhamos para as despesas contratadas declaradas por candidatas/os à Justiça Eleitoral e disponibilizados pelo portal ‘Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais‘. Em regra, comparado com as despesas totais das campanhas, foi gasto muito pouco com impulsionamento de conteúdo. Em 2018, do total de despesas contratadas declaradas pelas candidaturas eleitas à Câmara dos Deputados (348.6 milhões de reais), cerca de 4.6 milhões foram declaradas sob a rubrica ‘Despesas com impulsionamento de conteúdo’, o que corresponde a apenas 1,3% do total de gastos das campanhas.

Gráfico de barras de título: Quanto foi gasto com impulsionamento de conteúdo? Duas barras: a primeira representa as Despesas Contratadas, com valor de 348.63 milhões de reais e despesas com impulsionamento, com valor de 4.583 milhões de reais.

O Facebook é a principal plataforma utilizada para esse tipo de propaganda paga

A soma dos valores pagos para o próprio Facebook e para as empresas Adyen e PayU, que são intermediárias de pagamento da plataforma, chega a um total de mais de R$ 4 milhões, um valor 25 vezes maior que aquele declarado para plataforma da Google, por exemplo, que ocupa o segundo lugar, somando R$161 mil em despesas contratadas.

Gráfico de barras de título: Quais fornecedores foram contratados para impulsionamento de conteúdo? A primeira barra representa o Facebook Serviços Online do Brasil LTDA, com valor de 1.029 milhão de reais. A segunda barra representa a Ayden do Brasil LTDA, com valor de 2.854 milhões de reais. A terceira barra a PayU Brasil Intermediação de Negócios, com valor de 194 mil reais. A quarta barra o Google Brasil Internet LTDA, com valor de 161 mil reais. A quinta barra Empresas de Pagamento Online, com valor de 19 mil reais. A sexta barra Empresas de comunicação e marketing, com valor de 364 mil reais. A sétima barra Pessoas Físicas, com valor de 86 mil reais e a última barra representando Outros, com valor de 30 mil reais.

A nova e a velha política: a pluralidade das estratégias digitais

De modo geral, partidos mais tradicionais e incumbentes na política, tais como PT, PP, MDB, PSDB, DEM, tiveram maiores gastos de campanha e direcionaram mais recursos para impulsionamento. Esse padrão pode ser explicado pelo fato de tais legendas terem acesso a parcelas maiores do fundo partidário o que, após a proibição do financiamento empresarial de campanhas, ganhou ainda mais relevância nessas eleições. Em contraste, partidos emergentes que adotaram um discurso de renovação, como é o caso do NOVO, do PSOL, e do PSL, gastaram menos tanto no total das campanhas, como também com impulsionamento de conteúdo (abaixo da linha), mas também tinham acesso a porções menores do fundo eleitoral.

Gráfico de bolhas com o título: Quanto os partidos gastaram com impulsionamento de conteúdo? Com as despesas dos candidatos no eixo y, com variação de 5 milhões de reais indo de 0 a 45 milhões de reais, despesas com impulsionamento no eixo x, com variação de 50 mil indo de 0 a 600 mil reais, e os tamanhos das bolhas representando a quantidade de votos obtidos por partidos, variando de 0 a 8 milhões. Os partidos foram dispostos, da menor quantidade de despesas com impulsionamento e campanha, na seguinte ordem: PHS (menos de 2 milhões de votos, perto de 0 reais de gastos de campanha e impulsionamento), PROS (menos de 2 milhões de votos e aproximadamente 5 milhões de reais de gastos com campanha e 20 mil reais com impulsionamento), AVANTE (menos de 2 milhões de votos e aproximadamente 2 milhões de reais de gastos com campanha e 55 mil reais com impulsionamento), PSL (cerca de 8 milhões de votos, 5 milhões de reais de gastos com campanha e 110 mil reais com impulsionamento), SOLIDARIEDADE (menos de 2 milhões de votos e aproximadamente 10 milhões de reais de gastos de campanha e 75 mil reais com impulsionamento), PSOL (menos de 2 milhões de votos e aproximadamente 2,5 milhões de gastos com campanha e 170 mil reais com impulsionamento), NOVO (menos de 2 milhões de votos e aproximadamente 2,5 milhões de reais de gastos com campanha e 180 mil com impulsionamento), PSC (menos de 2 milhões de votos e aproximadamente 6 milhões de reais de gastos com campanha e 160 mil reais com impulsionamento), PPS (menos de 2 milhões de votos e aproximadamente 9 milhões de reais de gastos com campanha e 160 mil reais com impulsionamento), PODEMOS (menos de 2 milhões de votos e aproximadamente 10 milhões de reais de gastos com campanha e 140 mil com impulsionamento), PDT (cerca de de 2 milhões de votos e aproximadamente 12 milhões de reais de gastos com campanha e 80 mil reais com impulsionamento), PRB (cerca de 2 milhões de votos, 18 milhões de reais de gastos com campanha e 100 mil reais de gastos com impulsionamento), PSD (cerca de 2 milhões de votos, 24 milhões de reais de gastos com campanha e 135 mil reais com impulsionamento), DEM (cerca de 2 milhões de votos, 24 milhões de reais de gastos com campanha e 135 mil reais com impulsionamento), PV (menos de 2 milhões de votos e aproximadamente 2 milhões de reais de gastos com campanha e 320 mil com impulsionamento), PSDB (cerca de 2 milhões de votos, 25 milhões de reais de gastos com campanha e 295 mil reais com impulsionamento), PR  (cerca de 2 milhões de votos, 38 milhões de reais de gastos com campanha e 200 mil reais com impulsionamento), MDB (cerca de 2 milhões de votos, 35 milhões de reais de gastos com campanha e 350 mil reais com impulsionamento), PT (cerca de 4 milhões de votos, 35 milhões de reais de gastos com campanha e 470 mil reais com impulsionamento), PSB (cerca de 2 milhões de votos, 21 milhões de reais de gastos com campanha e 525 mil reais com impulsionamento) e PP (cerca de 2 milhões de votos, 42 milhões de reais de gastos com campanha e 610 mil reais com impulsionamento). No centro é traçada uma linha de tendência que fica mais próxima dos partidos PHS, PROS, SOLIDARIEDADE, PDT, PODEMOS, PSL, PPS, PSDB, PT E PP. Outras bolhas são dispostas no gráfico sem identificação.

A análise das estratégias individuais de gastos de campanha das candidaturas eleitas também contribui para esse diagnóstico. De modo geral, políticos tradicionais, que são mais conhecidos pelo público, parecem ter gasto mais em suas campanhas. Como no caso dos partidos, isso pode indicar que tais candidaturas tinham acesso a uma maior proporção do fundo partidário, ou que receberam mais doações de campanha, o que possibilitou gastos altos. Além disso, é possível que campanhas da ‘velha política’ tenham apostado no uso de estratégias também mais tradicionais, já testadas e aprovadas em outras eleições, e investido proporcionalmente menos em ferramentas mais inovadoras, como o impulsionamento de conteúdo. Em contraste, as exceções que se destacam, com despesas com impulsionamento representando mais do que 20% dos gastos totais, foram algumas candidaturas que tiveram uma despesa total de campanha menor que a maioria, e cujos parlamentares foram eleitos para a Câmara dos Deputados pela primeira vez, como é o caso de Kim Kataguiri (DEM-SP), Gilson Marques (NOVO-SP), Major Vitor Hugo (PSL-GO) e Celio Studart (PV-CE).

Gráfico de bolhas com o título: Quanto cada candidatura gastou com impulsionamento? Com as despesas das candidaturas no eixo y, com variação de 200 mil reais, indo de 0 a 2,400 milhões, as despesas com impulsionamento proporcionalmente no eixo x, com variação de 5 por cento indo de 0 a 65 por cento, e as cores das bolhas representando se o mandato é consecutivo, em roxo, ou não, em verde água. Os candidatos que tiveram maiores despesas com impulsionamento proporcionalmente foram, do maior para o menor: Major Vitor Hugo (mandato consecutivo e aproximadamente 65% de gastos com impulsionamento e 30 mil reais com campanha), Celio Studart (mandato consecutivo e aproximadamente 56% de gastos com impulsionamento e 480 mil reais com campanha), Sargento Gurgel (mandato consecutivo e aproximadamente 40% de gastos com impulsionamento e 10 mil reais com campanha), Otoni de Paula (mandato consecutivo e aproximadamente 38% de gastos com impulsionamento e 110 mil reais com campanha), Gilson Marques (mandato consecutivo e aproximadamente 36% de gastos com impulsionamento e 200 mil reais com campanha), André (mandato consecutivo e aproximadamente 33% de gastos com impulsionamento e 100 mil reais com campanha), Felipe Rigoni (mandato consecutivo e aproximadamente 27% de gastos com impulsionamento e 180 mil reais com campanha), e Kim Kataguiri (mandato consecutivo e aproximadamente 23% de gastos com impulsionamento e 200 mil reais com campanha), Alex Manente (primeiro mandato e aproximadamente 13% de gastos com impulsionamento e 800 mil reais com campanha), Felipe Carreras (primeiro mandato e aproximadamente 12,5% de gastos com impulsionamento e 1,600 milhões de reais com campanha), Wladimir Garotinho (mandato consecutivo e aproximadamente 12% gastos com impulsionamento e 200 mil reais com campanha), Elias Vaz (mandato consecutivo e aproximadamente 12% de gastos com impulsionamento e 250 mil reais com campanha), Angela Amin (mandato consecutivo e aproximadamente 12% de gastos com impulsionamento e 500 mil reais com campanha), Ivan Valente (primeiro mandato e aproximadamente 9% de gastos com impulsionamento e 450 mil reais com campanha), Ricardo Barros (primeiro mandato e aproximadamente 9% de gastos com impulsionamento e 1,100 milhão de reais com campanha), Gleisi Lula (mandato consecutivo e aproximadamente 8% de gastos com impulsionamento e 1,190 milhão de reais com campanha), Jose Medeiros (mandato consecutivo e aproximadamente 7% de gastos com impulsionamento e 1 milhão de reais com campanha), Iracema Portella (primeiro mandato e aproximadamente 7% de gastos com impulsionamento e 1,350 milhão de reais com campanha), Emanuelzinho (mandato consecutivo e aproximadamente 6% de gastos com impulsionamento e 1,750 milhão de reais com campanha), Aécio Neves (mandato consecutivo e aproximadamente 5% de gastos com impulsionamento e 2,250 milhões de reais com campanha), Sérgio Souza (primeiro mandato e aproximadamente 4% de gastos com impulsionamento e 1,800 milhão de reais com campanha), Aureo (primeiro mandato e aproximadamente 3% de gastos com impulsionamento e 1,550 milhão de reais com campanha), Hercílio Coelho Diniz (mandato consecutivo e aproximadamente 2% de gastos com impulsionamento e 1,950 milhão de reais com campanha) e Pinheirinho (mandato consecutivo e aproximadamente 1% de gastos com impulsionamento e 2 milhões de reais com campanha).  Outras bolhas são dispostas no gráfico sem identificação concentradas entre as porcentagens de 0 e 10% de gastos com impulsionamento.

Seguidores e eleitores: o capital social nas campanhas digitais

De forma análoga à importância do ‘capital político’ para o resultado de uma candidatura eleitoral, o alcance de conteúdos nas redes sociais não depende apenas do quanto foi investido em termos financeiros com impulsionamento, mas também no ‘capital social’ já acumulado pelas/os candidata/os e partidos. Nesse sentido, olhamos para o número de seguidores no Facebook e como esses números se relacionam com os gastos de campanha com impulsionamento de conteúdo.

Gráfico de bolhas com o título: Há relação entre a campanha nas redes e o número de votos de cada partido? Com as despesas com impulsionamento de conteúdo no eixo y, com variação de 100 mil reais, indo de 0 a 600 mil reais, seguidores no Facebook no eixo x, com variação de 1 milhão, indo de 0 a 9 milhões de seguidores e os tamanhos das bolhas representando a quantidade de votos obtidos por partido, variando de 0 a 8 milhões. Os partidos foram dispostos na seguinte ordem, de de maior quantidade de seguidores no Facebook para menor: PSL (cerca de 8 milhões de votos, 8,200 milhões de seguidores e 110 mil reais de gastos com impulsionamento), PT (cerca de 4 milhões de votos, 6 milhões de seguidores e 470 mil reais de gastos com impulsionamento), DEM (cerca de 2 milhões de votos, 5,500 milhões de seguidores e 135 mil reais de gastos com impulsionamento), PSDB (cerca de 2 milhões de votos, 5 milhões de seguidores e 295 mil reais de gastos com impulsionamento), PSD (cerca de 2 milhões de votos, 5 milhões de seguidores e 135 mil reais de gastos com impulsionamento), PODEMOS (menos de 2 milhões de votos e cerca de 5 milhões de seguidores e 140 mil reais de gastos com impulsionamento), PSOL (menos de 2 milhões de votos e cerca de 3,400 milhões de seguidores e 170 mil reais de gastos com impulsionamento), PRB (cerca de 2 milhões de votos, 3,300 milhões de seguidores e 100 mil reais de gastos com impulsionamento), PR (cerca de 2 milhões de votos, 2,900 milhões de seguidores e 200 mil reais de gastos com impulsionamento) PP (cerca de 2 milhões de votos, 2,600 milhões de seguidores e 610 mil reais de gastos com impulsionamento), PSB (cerca de 2 milhões de votos, 1,800 milhão de seguidores e 525 mil reais de gastos com impulsionamento), PC do B (menos de 2 milhões de votos e cerca de 1,200 milhão de seguidores e 100 mil reais de gastos com impulsionamento), MDB (cerca de 2 milhões de votos, 1,200 milhão de seguidores e 350 mil reais de gastos com impulsionamento), NOVO (menos de 2 milhões de votos e cerca de 1 milhão de seguidores e 180 mil reais de gastos com impulsionamento), PDT (cerca de de 2 milhões de votos, 900 mil seguidores e 80 mil reais de gastos com impulsionamento), PROS (menos de 2 milhões de votos e cerca de 850 seguidores e 20 mil reais de gastos com impulsionamento), PSC (menos de 2 milhões de votos e cerca de 800 seguidores e 160 mil reais de gastos com impulsionamento), PV (menos de 2 milhões de votos e cerca de 800 seguidores e 320 mil reais de gastos com impulsionamento), PRP (menos de 2 milhões de votos e cerca de 500 seguidores e 10 mil reais de gastos com impulsionamento), PPS (menos de 2 milhões de votos e cerca de 400 seguidores e 160 mil reais de gastos com impulsionamento) e PTB (cerca de 2 milhões de votos, 300 seguidores e 90 mil reais de gastos com impulsionamento). utras bolhas são dispostas no gráfico sem identificação concentradas  nos índices próximos a 0 dos eixos y e x.

Nossos dados mostram que os partidos que receberam o maior número de votos para a Câmara dos Deputados (pontos maiores) são também aqueles que ou declararam mais gastos com impulsionamento de conteúdo, ou que possuem um número maior de seguidores no Facebook. Ou seja, aqueles que organicamente ou por meio de propaganda paga tinham maior presença nas redes sociais

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A partir dos dados analisados, a pesquisa identificou que, pela ausência de investimentos significativos em impulsionamento de conteúdo, o uso dessa ferramenta não parece ter sido o elemento decisivo para o sucesso das campanhas. O rastro do dinheiro parece indicar que o sucesso de campanha digitais não depende apenas de investimento financeiro para impulsionar a circulação e a visualização do conteúdo patrocinado, mas sim que o papel da militância e o engajamento orgânico de apoiadores é relevante nas redes, assim como é nas ruas.

A vitória nas urnas de Jair Bolsonaro e de candidatos do seu partido PSL em geral é um exemplo disso. O sucesso de tais candidaturas e a dominância nas redes sociais não resultou de massivos investimentos em impulsionamento, mas provavelmente de uma campanha digital estruturada de forma mais difusa e complexa.

Acesse o relatório completo aqui.

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Equipe responsável pelo conteúdo: Beatriz Kira, Heloisa Massaro e Francisco Brito Cruz. Colaboraram Victor Pavarin e Murilo Roncolato.

Equipe do projeto: Francisco Brito Cruz, Beatriz Kira, Heloisa Massaro, Sam Jeffers e Louis Knight-Webb.

Equipe institucional: Mariana Valente e Dennys Antonialli.

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