Como operações de influência entre plataformas são usadas para atacar jornalistas e enfraquecer democracias?

InternetLab, INCT.DD, DFRLab, VERO, AzMina e VOLT DATA LAB lançam relatório que analisa ataques contra jornalistas em plataformas digitais no Brasil.

Notícias Desigualdades e Identidades 05.09.2022 por Blenda Santos e Clarice Tavares

“Quando um influenciador dissemina uma informação, há impacto. Mas quando quem faz isso é um membro do governo, o impacto é muito maior”, afirma Patrícia Campos Mello, jornalista premiada e uma das entrevistadas no relatório Como operações de influência entre plataformas são usadas para atacar jornalistas e enfraquecer democracias?, lançado hoje. A pesquisa é uma parceria do InternetLab com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), o Laboratório de Pesquisa Digital Forense do Conselho Atlântico (DFRLab), o Instituto VERO, AzMina e VOLT DATA LAB. O objetivo da pesquisa foi demonstrar como os ataques que ocorrem online impactam as vidas de jornalistas e como discursos violentos ganham espaço nas redes sociais no contexto brasileiro. Nesse sentido, buscou-se responder às seguintes perguntas:

  1. Há diferenças na forma com que a violência de gênero é promovida e instrumentalizada nas operações de influência entre plataformas?
  2. Há diferenças entre a violência online que ataca jornalistas mulheres e jornalistas homens? Da mesma forma, há diferenças entre a violência online direcionada a jornalistas negros, indígenas e brancos?
  3. Até que ponto as operações de influência atacam jornalistas entre plataformas?
  4. Como as operações de influência direcionadas a jornalistas se alastram através do Twitter, YouTube e WhatsApp?
  5. Como atores mal-intencionados se apropriam de recursos específicos das plataformas para aumentar o alcance de suas campanhas?

Para respondê-las, foi utilizada uma abordagem multimétodos que incluiu uma análise de dados nas contas do Twitter, YouTube e WhatsApp de 200 jornalistas —  133 mulheres e 67 homens com diferentes perfis sociais, trabalhando em diferentes áreas. Os dados coletados foram analisados combinando análise qualitativa (checagem e interpretação dos ataques), análise de rede (redes de hashtags do Twitter e de recomendações do YouTube para identificar atores envolvidos) e análise lexical (termos usados para atacar jornalistas, com base em gênero e raça). Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 13 jornalistas que sofreram violência online.

Principais resultados

A combinação de diferentes procedimentos metodológicos resultou em um conjunto de percepções sobre a violência direcionada a jornalistas brasileiras(os) nas plataformas. Segundo os entrevistados, jornalistas mulheres e jornalistas não brancos são atacados mais frequentemente do que seus colegas homens e brancos. Algumas jornalistas mulheres afirmaram ter sido atacadas com conteúdos sexualizados e misóginos. Jornalistas negros, por sua vez, afirmaram ser frequentemente comparados a criminosos e ofendidos em razão de sua aparência. Como consequência dessas violências, em diversos casos, os ataques contra as/os jornalistas/os podem ter um efeito inibidor, fazendo com que os profissionais se abstenham de pautar determinados temas ou tenham receio de assinar matérias. 

A pesquisa permitiu a identificação de uma variação nos vocabulários e discursos para atacar distintos grupos de jornalistas de acordo com os seus marcadores sociais, sua identidade e ideologia política. Verificamos, também, que os ataques ocorrem com maior frequência em ambientes de discussão abertos

Nesse contexto de investidas contra jornalistas, o Twitter foi apontado como o ambiente mais problemático. Se, por um lado, as(os) jornalistas destacam que conseguem pautar questões importantes mais rapidamente, por outro lado, é também nesta rede que se sentem mais vulneráveis. Nesta plataforma, observou-se que as mulheres jornalistas recebem o dobro de ofensas em relação a seus colegas homens: entre os cinco profissionais mais atacados, quatro são mulheres. Ofensas e ameaças contra os seus corpos, comentários negativos sobre intelectualidade e capacidade profissional se sobressaem. O intuito, aqui, é simples: desmerecer o trabalho dessas profissionais e desviar a atenção do público de determinadas discussões. 

Em relação ao WhatsApp, dos 3 jornalistas mais atacados, 2 eram mulheres, incluindo o profissional mais atacado. Foi observado que mensagens atacando a imprensa aumentam no aplicativo de mensagem toda vez que ocorre um episódio que causa embaraço ao governo, o que faz desses ataques convenientes para desacreditar veículos de mídia como um todo. 

Ainda, a plataforma de mensageria se mostrou como o espaço mais estratégico para coordenação e discussão de rede. Esses ambientes desenvolveram suas próprias terminologias e códigos para se referir a jornalistas. 

Já o YouTube não foi frequentemente apontado como plataforma importante para os assédios, ainda que alguns jornalistas tenham percebido que campanhas de difamação também ocorrem na plataforma. Entre essas formas campanhas, destacam-se as chamadas “campanhas de dislikes”, em que acontece uma mobilização para que diversas pessoas deem dislike em um determinado vídeo ou em diversos vídeos sobre um tópico específico. Nos comentários de vídeos com altas taxas de dislike, foram encontrados os mesmos padrões textuais de tweets hostis aos jornalistas.

Nesse sentido, o relatório demonstra que  diferentes táticas de ataque são usadas de acordo com os padrões e com funcionalidades de cada plataforma.

Para conhecer esses e outros resultados, acesse o relatório, em português, aqui. O relatório também está disponível, em inglês, aqui.

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